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quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Morre o artista plástico Frans Krajcberg, aos 96 anos



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O artista plástico Frans Krajcberg morreu nesta quarta-feira, aos 96 anos. Ele estava internado há um mês no Hospital Samaritano, na Zona sul do Rio. O quadro de saúde do artista era considerado frágil, e ele chegou à capital fluminense com várias infecções. Na Bahia, onde vivia, ele chegou a ser hospitalizado em Teixeira de Freitas, uma cidade próxima a Nova Viçosa, onde fica seu sítio e futuro museu.

O corpo do artista foi levado, na tarde desta quarta-feira, para um laboratório no Rio. Ele será cremado, de acordo com o desejo do mesmo. Como contou Marcia Barrozo do Amaral, uma das amigas mais próximas de Krajcberg, as cinzas serão levadas até o Sítio Natura, em Nova Viçosa.

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Conhecido principalmente por suas esculturas feitas a partir de troncos e raízes de árvores calcinadas pelos incêndios que derrubam densas áreas verdes para transformá-las em pastos, Krajcberg sempre foi um artista engajado. Sua obra transitou pela pintura, escultura, gravura e fotografia.

"É preciso falar sobre a destruição do planeta. E é preciso falar sobre cultura" disse ele em entrevista ao GLOBO, em 2015. "Estamos passando por momentos difíceis, tem um vazio de arte, não se pronuncia mais a palavra cultura. É uma crise mundial, mas no Brasil parece estar mais profunda. Porque aqui, também se trata de uma crise moral".

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Brasileiro desde 1957 ("A imprensa insiste em dizer que sou polonês naturalizado brasileiro; não sou. Sou brasileiro", observa), ele nasceu em Kozienice, Polônia, em 11 de abril de 1921. Antes da guerra, estudou engenharia e artes na Universidade de Leningrado. Chegou aqui em 1948, depois de lutar na Segunda Guerra, onde toda a sua família, de origem judia, foi dizimada no Holocausto.

"Perdi toda a minha família de modo bárbaro. Sabe o que é isso? Fazer um buraco enorme, jogar eles vivos, jogar terra em cima? Não suportava mais viver. Fiquei sozinho, quis fugir de tudo, principalmente do homem", disse.

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A exuberante natureza do novo país lhe deu o refúgio que buscava. Em 1951, participou da 1ª Bienal Internacional de São Paulo com duas pinturas. Residiu por um breve período no Paraná, isolando-se na floresta para pintar. Em 1956, mudou-se para o Rio de Janeiro, dividindo o ateliê com o escultor Franz Weissmann (1911-2005). Dois anos depois, revezava-se entre o Rio, Paris e Ibiza.

Em 1972, fixou residência em Nova Viçosa, no Sul da Bahia, onde viveu até o fim da vida, no Sítio Natura, cercado pela única porção de Mata Atlântica remanescente na região, e que tomou para si a tarefa de manter intacta. Krajcberg estava construindo um museu para abrigar suas obras, que calculava serem em torno de 300. Segundo Marcia Barrozo do Amaral, o museu está próximo de ficar pronto, faltando apenas dois pavilhões.

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"Lá é o lugar que ele adotou para viver. Tudo no sítio tem o dedo dele. É um terreno muito grande, tem a Casa da Árvore, que ele gostava de chamar de "Casa do Tarsan". Ele vivia nela. Ao lado, ficam os dois pavilhões que constituem o museu", explicou Márcia.

Apesar de o projeto estar próximo de ser realizado, assim como Krajcberg desejava, em vida ele reclamava da falta de apoio.

'Lá no Sul da Bahia não me dão nem bom dia. Não sei o que vou fazer. Venho trabalhando sozinho, não sei se tenho mais forças ", dizia, com a mágoa ampliada pelos cinco assaltos que sofreu: num deles, levaram o cordão, que era a única lembrança que guardava de sua mãe (depois do último roubo, três policiais militares revezavam-se na segurança da propriedade e do artista).

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Seu trabalho com escultura, iniciado em Minas Gerais, intensificou-se na Bahia. Viajava constantemente para a Amazônia e Mato Grosso e fotografava os desmatamentos e queimadas, revelando imagens dramáticas. Dessas viagens, retornava com matéria-prima natural para suas obras.

Durante a Segunda Guerra Mundial (1938-1945) em 1939, Krajcberg buscou refúgio na União Soviética, onde estudou engenharia e artes na Universidade de Leningrado. Residiu na Alemanha prosseguindo seus estudos na Academia de Belas Artes de Stuttgart.

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Chegou ao Brasil em 1948, vindo a participar da oitava Bienal de São Paulo, em 1951. Durante a década de 1940 o seu trabalho era abstrato.

De 1948 a 1954 viveu entre as cidades de Paris, Ibiza e Rio de Janeiro, onde produziu os seus primeiros trabalhos fruto do contato direto com a natureza. Na década de 1950 morou em uma caverna no Pico da Cata Branca, região de Itabirito, no interior de Minas Gerais. Ali na região, à época, era conhecido como o barbudo das pedras, uma vez que vivia solitário, sem conforto, tomando banho no rio vizinho, enquanto produzia, incessantemente, gravuras e esculturas em pedra.

Em 1956, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde dividiu o ateliê com o escultor Franz Weissmann (1911 - 2005). Naturalizou-se brasileiro no ano seguinte.

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Em 1964, executou as suas primeiras esculturas com madeiras de cedros mortas. Realizou diversas viagens à Amazônia e ao Pantanal Matogrossense, fotografando e documentando os desmatamentos, além de recolher materiais para as suas obras, como raízes e troncos calcinados. Na década de 1970 ganhou projeção internacional com as suas esculturas de madeira calcinada.

A sua obra reflete a paisagem brasileira, em particular a floresta amazônica, e a sua constante preocupação com a preservação do meio-ambiente. Atualmente, o artista tem se dedicado à fotografia.

O sítio Natura

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Krajcberg radicou-se no Brasil desde 1972 vivendo no sul da Bahia, onde manteve o seu ateliê no Sítio Natura, no município de Nova Viçosa. Chegou ali a convite do amigo e arquiteto Zanine Caldas, que o ajudou a construir a habitação: uma casa, a sete metros do chão, no alto de um tronco de pequi com 2,60 metros de diâmetro. À época Zanine sonhava em transformar Nova Viçosa em uma capital cultural e a sua utopia chegou a reunir nomes como os de Chico Buarque, Oscar Niemeyer e Dorival Caymmi.

No sítio, uma área de 1,2 km², um resquício de Mata Atlântica e de manguezal, o artista plantou mais de dez mil mudas de espécies nativas. O litoral do município é procurado, anualmente, no inverno, por baleias-jubarte. No sítio, dois pavilhões projetados pelo arquiteto Jaime Cupertino, abrigam atualmente mais de trezentas obras do artista. Futuramente, com mais cinco construções projetadas, ali se constituirá o Museu que levará o nome do artista.

Ativismo ecológico[editar - Ao longo de sua carreira, o artista:

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Denunciou queimadas no estado do Paraná;
Denunciou a exploração de minérios no estado de Minas Gerais;
Denunciou o desmatamento da Amazônia brasileira;
Defendeu as tartarugas marinhas que buscam o litoral do município de Nova Viçosa para desova;
Postou-se na frente de um trator para evitar a abertura de uma avenida na cidade de Nova Viçosa.

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