A Segunda Turma do Supremo
Tribunal Federal (STF) decidiu nessa terça-feira (8), aceitar a denúncia oferecida pelo Ministério Público
Federal contra o deputado federal Lúcio Vieira Lima, o irmão dele, o
ex-ministro Geddel Vieira Lima e a mãe de ambos, Marluce Vieira Lima, no caso
dos R$ 51 milhões apreendidos em um apartamento em Salvador (BA).
Por conta disso, os três se tornaram réus e passarão a responder a uma
ação penal na Corte pelos crimes de lavagem de dinheiro e associação criminosa.
Além disso, os ministros decidiram ainda rejeitar a denúncia contra Gustavo
Ferraz, ex-diretor da Defesa Civil de Salvador.
O caso está relacionado aos
R$ 51 milhões em espécie encontrados no apartamento de um amigo de Geddel em
Salvador. Ele foi preso preventivamente em 8 setembro do ano passado, três dias
após o dinheiro ser encontrado. Posteriormente, um fragmento de impressão
digital encontrado no material apreendido foi apontado pela Polícia Federal
como sendo do ex-ministro.
Fachin afirmou haver
“elementos suficientes” para justificar a abertura de ação penal, com base em
depoimentos, provas documentais e periciais. Em breves votos, os ministros Dias
Toffoli, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Celso de Mello acompanharam o
relator.
O relator descreveu crimes de
corrupção e peculato que são investigados em outros inquéritos como suficientes
para indicar a origem do dinheiro e a existência de associação criminosa no
seio da família Vieira Lima. O processo agora passará para uma nova etapa de
apuração, com prováveis novas diligências e coleta de depoimentos.
Também por unanimidade, os
ministros decidiram arquivar as acusações conta Gustavo do Couto Ferraz, um
antigo aliado de Geddel cujas digitais foram encontradas no dinheiro
apreendido. Fachin disse ter ficado claro, pelas investigações da Polícia
Federal, que Ferraz apenas transportou parte da quantia, o que não seria
ilegal, e não teve participação em crimes ligados ao dinheiro.
Foram tornados réus ainda Job
Brandão, ex-assessor parlamentar de Lúcio Vieira Lima; e o empresário Luiz
Fernando Machado, administrador da empresa Cosbat, que teria sido usada pela
família Vieira Lima para lavar dinheiro.
Acusação a Geddel
A denúncia foi apresentada
pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge, em dezembro do ano passado.
Segundo ela, a quantia milionária é a maior apreensão de dinheiro vivo da
história do Ministério Público Federal (MPF).
Na acusação, Raquel Dodge
sustentou que o dinheiro seria proveniente de esquemas de corrupção na Caixa
Econômica Federal investigados em outras ações penais. Geddel foi
vice-presidente do banco. Outra parte teria sido acumulada por Lúcio Vieira
Lima por meio do crime de peculato, em que o parlamentar se apropriou de parte
do salário do ex-assessor parlamentar Job Brandão.
Além do dinheiro encontrado,
outros R$ 12 milhões teriam sido lavados por Marluce, Geddel e Lúcio por meio
de investimentos em imóveis de alto padrão em Salvador, em empreendimentos da
empresa Cosbat, administrada por Luiz Fernando Machado.
“E, como nós sabemos, não
foram apenas R$ 51 milhões. Com tudo o que já li sobre o Geddel nos processos,
a coisa já passou muito e muito de R$ 100 milhões em vantagens indevidas em
razão do cargo. O paciente continua sendo investigado por corrupção, peculato”,
disse a subprocuradora-geral da República Cláudia Sampaio Marques, em
sustentação oral nesta terça-feira.
Cláudia Sampaio pediu que
Geddel continue preso. “Seria um desplante, um descaso com a Justiça, soltar um
paciente nessas condições.”
Defesas
De acordo com a defesa de
Geddel, a origem dos R$ 51 milhões decorre da “simples guarda de valores em
espécie”. O valor seria fruto de “investimentos no mercado de incorporação
imobiliária, com dinheiro vivo”.
O advogado Gamil Föppel, que
representa a família Vieira Lima, afirmou nesta terça-feira que a denúncia da
PGR é inepta, pois não descreveu, especificamente, quais crimes teriam sido
praticados pela suposta associação criminosa, dando origem a recursos ilícitos
a serem lavados.
“A denúncia não descreve atos
de corrupção e não descreve atos de peculato”, destacou o advogado. “Descreve o
antefato, descreve o pós-fato, mas não descreve o miolo da acusação”,
acrescentou. “É insustentável se falar em associação criminosa sem que se
descrevam os crimes.”
Ao defender a soltura
imediata de Geddel, o advogado argumentou não haver nenhum risco de que ele
volte a cometer crimes. Ele afirmou que o político é alvo de “uma cruzada de
perseguição dos órgãos de controle”, com o intuito de “demonizá-lo perante a opinião
pública”.
O advogado César de Faria
Júnior, que representa o empresário Luiz Fernando Machado, argumentou que seu
cliente agiu de boa-fé ao receber quantias em cheque e em espécie das mãos da
família Vieira Lima. “O fato de ele ter depositado esse dinheiro não pode ter
outra consequência se não militar em seu favor”, disse.
O defensor Marcelo Ferreira
de Souza, que representa Job Brandão, apontou a contradição da acusação contra
o ex-assessor parlamentar, que foi denunciado por desvios milionários, mas
sequer possui um carro popular, sendo pobre “no sentido mais literal do termo”.
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