O ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva (PT) afirmou que o ex-juiz Sergio Moro "saiu do armário em
que escondia sua verdadeira natureza" e dissipou qualquer dúvida sobre seu
engajamento político contra o PT no momento em que aceitou comandar o
Ministério da Justiça de Jair Bolsonaro (PSL).
Em carta enviada ao Diretório
Nacional do PT nesta sexta-feira (30), em Brasília, Lula disse que o
superministério dirigido por Moro vai aprofundar a perseguição ao PT e aos
movimentos sociais, valendo-se de "métodos arbitrários e ilegais da
Operação Lava Jato".
"Se alguém tinha dúvidas
sobre o engajamento político de Sergio Moro contra mim e contra nosso partido,
ele as dissipou ao aceitar ser ministro da Justiça de um governo que ajudou a
eleger com sua atuação parcial. Moro não se transformou no político que dizia
não ser. Simplesmente saiu do armário em que escondia sua verdadeira
natureza", disse o ex-presidente no texto lido por Luiz Dulci, diretor do
Instituto Lula.
"[...] Bolsonaro tem um
único propósito em mente, que é continuar atacando o PT. Ele não desceu do
palanque e não pretende descer. Temos de nos preparar para novos ataques, que
já começaram, como vimos nas novas ações, operações e denúncias arranjadas que vieram
neste primeiro mês depois das eleições", completou.
Preso desde abril em
Curitiba, Lula agradeceu à militância por ter sustentado sua candidatura ao
Planalto "até as últimas consequências" -o petista foi barrado pela
Justiça Eleitoral em setembro, com base na Lei da Ficha Limpa, e teve seu nome
substituído pelo de Fernando Haddad- e afirmou que a sigla precisa se
reconectar com o povo.
"Temos de voltar às
ruas, às fábricas, aos bairros e favelas, falar a linguagem do povo, nos
reconectar com as bases, como disse o Mano Brown", escreveu o
ex-presidente.
Durante o segundo turno da
eleição presidencial, o rapper fez duras críticas ao PT durante um comício em
apoio a Haddad no Rio e afirmou que o partido merecia perder por "não
conseguir falar a língua do povo".
A avaliação de Lula é que
esta "não foi uma eleição normal", mas que o PT conseguiu vitórias
importantes ao eleger uma bancada de 56 deputados -a maior da Câmara-, além de
quatro senadores e quatro governadores.
"Como diz a companheira
Gleisi [Hoffmann, presidente da sigla], não temos de pedir desculpas por sermos
grandes, se foi o eleitor que assim decidiu".
No momento em que partidos de
centro-esquerda exigem uma autocrítica do PT e articulam blocos de atuação sem
a sigla do ex-presidente, Lula disse que é preciso "atuar em conjunto com
todas as forças da esquerda, da centro-esquerda e do campo democrático, num
exercício cotidiano de resistência".
Leia abaixo a íntegra da
carta de Lula:
"Companheiras e
companheiros,
Do fundo do meu coração,
agradeço por tudo o que fizeram neste processo eleitoral tão difícil que
vivemos, absolutamente fora da normalidade democrática. Quero que levem meu
abraço e minha gratidão a cada militante do nosso partido, pela generosidade e
coragem diante da mais sórdida campanha que já se fez contra um partido
político neste país.
Agradeço à companheira Gleisi
Hoffmann e a toda a nossa direção nacional, por terem mantido o PT unido em
tempos tão difíceis; por terem sustentado minha candidatura até as últimas
consequências e por terem se engajado totalmente, com muita força, na
candidatura do companheiro Fernando Haddad.
Agradeço ao companheiro
Fernando Haddad por ter se entregado de corpo e alma à missão que lhe
confiamos. Ele enfrentou com dignidade as mentiras, a violência e o
preconceito. Saiu das eleições como um líder brasileiro reconhecido
internacionalmente.
Agradeço à companheira
Manuela D'Ávila e aos partidos que nos acompanharam com muita lealdade nessa
jornada.
Saúdo os quatro governadores
que elegemos, em especial a companheira Fátima Bezerra, e também os que não
conseguiram a reeleição mas não desistiram da luta nem dos nossos ideais. Saúdo
os senadores e deputados eleitos e todos os que, generosamente, se lançaram
candidatos, fortalecendo a votação em nossa legenda.
A luta extraordinária de
vocês nos levou a alcançar 47 milhões de votos no segundo turno. Apesar de toda
perseguição, de todas as tramoias que fizeram contra nós, o PT continua sendo o
maior e mais importante partido popular deste país. E isso nos coloca diante de
imensas responsabilidades.
O povo brasileiro nos deu a
missão de manter acesa a chama da esperança, o que significa a defesa da
democracia, do patrimônio nacional, dos direitos dos trabalhadores e do povo
que mais precisa. Tudo isso está ameaçado pelo futuro governo, que tem como objetivo
aprofundar os retrocessos implantados por Michel Temera partir do golpe que
derrubou a companheira Dilma Rousseff em 2016.
Esta não foi uma eleição
normal. O povo brasileiro foi proibido de votar em quem desejava, de acordo com
todas as pesquisas. Fui condenado e preso, numa farsa judicial que escandalizou
juristas do mundo inteiro, para me afastar do processo eleitoral. O Tribunal
Superior Eleitoral rasgou a lei e desobedeceu uma determinação da ONU,
reconhecida soberanamente em tratado internacional, para impedir minha
candidatura às vésperas da eleição.
Nosso adversário criou uma
indústria de mentiras no submundo da internet, orientada por agentes dos
Estados Unidos e financiada por um caixa dois de dimensões desconhecidas, mas
certamente gigantescas. É simplesmente vergonhoso para o país e para a Justiça
Eleitoral que suas contas de campanha tenham sido aprovadas diante de tantas
evidências de fraude e corrupção. É mais uma prova da seletividade de um
sistema judicial que persegue o PT.
Se alguém tinha dúvidas sobre
o engajamento político de Sergio Moro contra mim e contra nosso partido, ele as
dissipou ao aceitar ser ministro da Justiça de um governo que ajudou a eleger
com sua atuação parcial. Moro não se transformou no político que dizia não ser.
Simplesmente saiu do armário em que escondia sua verdadeira natureza.
Eu não tenho dúvida de que a
máquina do Ministério da Justiça vai aprofundar a perseguição ao PT e aos
movimentos sociais, valendo-se dos métodos arbitrários e ilegais da Lava Jato.
Até porque Jair Bolsonaro tem um único propósito em mente, que é continuar
atacando o PT. Ele não desceu do palanque e não pretende descer. Temos de nos
preparar para novos ataques, que já começaram, como vimos nas novas ações,
operações e denúncias arranjadas que vieram neste primeiro mês depois das
eleições.
Jair Bolsonaro se apresentou
ao país como um candidato antissistema, mas na verdade ele é o pior
representante desse sistema. Foi apoiado pelos banqueiros, pelos donos da
fortuna; foi protegido pela Rede Globo e pela mídia, foi patrocinado pelos
latifundiários, foi bancado pelo Departamento de Estado norte-americano e pelo
governo Trump, foi apoiado pelo que há de mais atrasado no Congresso Nacional,
foi favorecido pelo que há de mais reacionário no sistema judicial e no
Ministério Público, foi o verdadeiro candidato do governo Temer.
Não teve coragem de
participar de debates no segundo turno, de confrontar conosco suas ideias para
a economia, o desenvolvimento, a geração de empregos, as políticas sociais, a
política externa. E vai executar um programa ultraliberal, de entreguismo e
privatização, que não foi apresentado aos eleitores e muito menos aprovado nas
urnas.
Ele explorou o desespero das
pessoas com a violência; a indignação com a corrupção e a decepção com os
políticos. Mas não tem respostas concretas para nenhum desses desafios.
Primeiro porque a proposta dele para segurança é armar as pessoas, o que só vai
aumentar a violência. Segundo, porque Sergio Moro e a Lava Jato premiaram os
corruptos e corruptores da Petrobrás. A maioria está solta ou em prisão
domiciliar, gozando as fortunas que roubaram. E por fim, Bolsonaro é, de fato,
o representante do sistema político tradicional, que controla a economia e as
instituições no país.
As mesmas pessoas que
elegeram Bolsonaro vão julgá-lo todos os dias, pelas promessas que não vai
cumprir e pelo que vai acontecer em nosso país. Temos de estar preparados para
continuar construindo, junto com o povo, as verdadeiras soluções para o Brasil,
pois acredito que, por mais que queiram, não vão conseguir destruir nosso país.
O PT nasceu na oposição, para
defender a democracia e os direitos do povo, em tempos ainda mais difíceis que
os de hoje. É isso que temos de voltar a fazer agora, com o respaldo dos nossos
47 milhões de votos, com a responsabilidade de sermos o maior partido político
do país.
E como diz a companheira
Gleisi, não temos de pedir desculpas por sermos grandes, se foi o eleitor que
assim decidiu. Queremos e devemos atuar em conjunto com todas as forças da
esquerda, da centro-esquerda e do campo democrático, num exercício cotidiano de
resistência.
Temos de voltar às ruas, às
fábricas, aos bairros e favelas, falar a linguagem do povo, nos reconectar com
as bases, como disse o Mano Brown. Não podemos ter medo do futuro porque
aprendemos que o impossível não existe.
Até o dia do nosso
reencontro, fiquem com um grande abraço do Luiz Inácio Lula da Silva"/Estado de Minas
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