O afunilamento de
candidaturas para a Presidência não tem se revertido em maior clareza do
cenário eleitoral. Nos cenários sem Lula, enquadrado na Ficha Limpa, com o
ex-ministro do STF Joaquim Barbosa fora da disputa, aumentou significativamente
o número de eleitores que se declaram sem candidato. É o que mostra pesquisa
Datafolha divulgada ontem. Os votos brancos, nulos e indecisos bateram em 34%,
em “primeiro lugar” na corrida.
Em abril, o maior patamar
registrado havia sido de 28%. A desistência de Barbosa era esperada como um
fator de mudança. No entanto, as intenções de voto obtidas por ele em abril (8%
a 10%) não fortaleceram nenhum concorrente em especial. Lula, embora preso,
mantém-se na liderança, com 30%. Sem o petista, o pré-candidato do PSL, Jair
Bolsonaro, assume a dianteira, com 19%. Potenciais substitutos de Lula,
Fernando Haddad e Jaques Wagner continuam com desempenho pífio — 1%.
Se m Lula, a ex-senadora
Marina Silva (Rede) aparece na segunda posição, entre 14% e 15%. Ciro Gomes
(PDT) tem de 10% a 11% e aparece empatado tecnicamente com Geraldo Alckmin
(PSDB), que marcou 7%. No pelotão com intenção de voto entre 1% e 2% estão
Manuela D'Ávila (PC DO B) e Rodrigo Maia (DEM). Os demais pré-candidatos
tiveram 1% ou menos.
Os cenários pesquisados este
mês são diferentes dos que foram considerados em abril. Por isso, os resultados
dos dois levantamentos não são perfeitamente comparáveis. A pesquisa, com
margem de erro de dois pontos percentuais, foi realizada com 2.824 eleitores de
174 municípios, na quarta e quinta-feira da semana passada.
A sondagem mostrou que a
crise dos caminhoneiros não alterou o cenário eleitoral. Diferentemente da
avaliação do presidente Michel Temer, que viu sua taxa de rejeição bater novo
recorde — 82%. Em abril, ela era 70%.
O que dizem campanhas e
pré-candidatos
O deputado federal Jair
Bolsonaro (PSL-RJ) divulgou um vídeo ontem, pelo Twitter, em que tenta
desacreditar o levantamento do instituto. — Estou bem pra baixo e no segundo
turno perderia para todo mundo. Datafolha: continuas pagando vexame — disse o
deputado federal.
Marina aparece na disputa
presidencial como a principal favorecida por uma saída de Lula. Ela herdaria,
segundo o levantamento, de 17% a 18% dos eleitores do petista. Entretanto, a
maior parte deles (38% a 40%), quando Lula é retirado da eleição, migra para o
grupo dos sem candidato.
— Temos ainda que buscar
formas de dialogar com os cerca de 30% de eleitores que poderiam votar em
branco, nulo, em ninguém ou ainda não sabem em quem irão votar. A eleição
suplementar esse ano no Tocantins serve de alerta: quase a metade dos eleitores
votou nulo, branco ou se absteve. A sociedade está indignada e com toda razão —
afirmou Marina, que promete manter o tom “propositivo” da campanha.
Para 32% dos entrevistados,
Lula deveria apoiar Ciro se não puder concorrer. Coordenador da campanha do
pedetista, o irmão Cid Gomes atribuiu o desempenho de Marina ao recall da
eleição passada:
— As pessoas estão muito
alheias ainda, não se ligaram nem na Copa quanto mais na eleição. Boa parte da
pesquisa agora é lembrança de nomes e a Marina é a única que foi candidata a
presidente nas últimas eleições, ficou em terceiro lugar.
O resultado do Datafolha deu
combustível para o PT manter a estratégia de insistir no nome de Lula até se
esgotarem todos os recursos jurídicos. Segundo o Datafolha, 30% dos eleitores
dizem que votariam com certeza num candidato indicado pelo petista e 17%,
talvez. Integrante da Executiva Nacional do PT, o deputado José Guimarães (CE)
avalia que Haddad e Wagner crescerão:
— Isso não é real. As pessoas
não sabem que eles são candidatos do Lula. Para a campanha tucana, o aumento de
eleitores sem candidatos é natural porque a população não está interessada em
fazer o debate neste momento.
O processo decisório, dizem
articuladores de Alckmin, acontece nas últimas semanas da campanha. O
coordenador do programa de governo, Luiz Felipe d'Avila disse que o resultado é
“positivo”. — Mostra que, apesar do mau humor com a política, Alckmin é o
candidato mais competitivo no centro.
O ponto é como unir o centro,
diminuir o número de pré-candidatos e passar a ter mais tempo de TV do que
todos os outros — disse d’Avila. Oscilando entre 0% e 1% das intenções de voto,
o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles (MDB) afirma que o resultado já era
esperado.
— São resultados
absolutamente naturais. Não há grandes mudanças em relação às pesquisas
anteriores. Quem já era conhecido, está pontuando. Isso ocorre porque a
legislação para a pré-campanha é muito restritiva e impõe grande dificuldade
para quem não é conhecido.
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