O médico Olímpio Barbosa de
Morais Filho, gestor executivo e diretor do Centro Integrado de Saúde Amaury de
Medeiros (Cisam-UPE), comentou nesta segunda-feira sobre o procedimento de
interrupção de gravidez realizado em uma menina de 10 anos que foi estuprada
pelo tio no Espírito Santo.
Em entrevista à rádio
Bandeirantes FM, o médico criticou as manifestações realizadas no domingo (16)
em frente ao hospital, que fica no Recife (PE).
“Foi de tristeza, pessoas que
defendem a vida chamando a criança de assassina, querendo fazer justiça dessa
forma, logo em uma maternidade que acolhe mulheres em risco, fazendo barulho em
um hospital com 104 mulheres internadas. Nunca passei por nada parecido”, disse
o médico.
A menina foi transferida de
São Mateus, no norte do Espírito Santo, para o Recife, após decisão do juiz
Antonio Moreira Fernandes, da Vara da Infância e da Juventude do município onde
ela mora, que autorizou a realização do aborto.
“Se nós não fizéssemos nada,
o Estado brasileiro estaria conivente com a dor e a violência. O mais
importante é que ela não queria, foi torturada, obrigar uma criança a ter uma
gravidez forçada é um absurdo”, afirmou à rádio Bandeirantes.
Gravidez aos 10 anos não é
comum
Conforme o médico, o caso da
menina de 10 anos é raro, por não ser comum uma criança desta idade ovular e
possibilitar uma gravidez. Ainda segundo Olímpio, se a gestação não fosse
interrompida, provavelmente ela teria complicações por não ter um corpo
desenvolvido.
“Ela está bem, aliviada. O
sofrimento nesses últimos dias foi terrível para ela, as ameaças que sofreu. Eu
espero que esse sofrimento daqui para a frente seja atenuado, e vai depender
muito de como o caso vai ser conduzido, respeitando o sigilo, para que ela
possa recuperar a sua vida”, ressaltou em entrevista à GloboNews.
“Infelizmente, o estupro é
muito comum no Brasil, e, mais triste ainda, com crianças. Lamento muito que
muitas pessoas não têm acesso à informação. Então tem crianças sendo
violentadas, engravidando e levando a gravidez até o termo. Muitas vezes só
ficamos sabendo [por causa] de complicações. É sabido também que a principal
causa de suicídio em adolescentes é a gravidez indesejada”, disse na GloboNews.
Relembre o caso
O caso da menina de 10 anos
se tornou público depois que ela deu entrada no Hospital Roberto Silvares, em
São Mateus, se sentindo mal. Enfermeiros perceberam que a garota estava com a
barriga estufada, pediram exames e detectaram que ela está grávida de cerca de
3 meses.
Em conversa com médicos e com
a tia que a acompanhava, a criança relatou que o tio a estuprava desde os 6
anos. Ela disse que não havia contado aos familiares porque tinha medo, pois
ele a ameaçava.
O juiz Antonio Moreira
Fernandes, da Vara da Infância e da Juventude de São Mateus, município no norte
do ES onde a menina mora, deu aval à interrupção da gravidez para preservar a
vida da vítima, que foi levada para Recife, já que no Espírito Santo o
atendimento do hospital autorizado a fazer o aborto teria se recusado. A
legislação autoriza a interrupção da gravidez em caso de estupro.
Pessoas contrárias e a favor
do aborto estiveram na porta do hospital onde a menina está internada para
realizar o procedimento. Houve bate-boca entre os dois grupos. O médico Olímpio
Barbosa de Moraes Filho, gestor-executivo da instituição, foi hostilizado por
manifestante anti-aborto./ istoe
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