O ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva admitiu nesta quinta-feira, 20, que o PT pode não lançar
candidato à Presidência em 2022 desde que outro partido de oposição apresente
um nome com melhor desempenho nas pesquisas de opinião.
A declaração de Lula foi
recebida positivamente, mas com cautela por líderes de outras siglas da
esquerda. Já no próprio PT a possibilidade de o partido não ter candidato a
presidente pela primeira vez desde a redemocratização é vista como improvável.
Lula admitiu que o PT pode abrir mão da cabeça de chapa em 2022 em entrevista
ao canal do YouTube TV Democracia, do jornalista Fabio Pannunzio.
"Acho plenamente
possível ter uma eleição em que o PT não tenha candidato a presidente. O PT
pode ter candidato a vice, a outra coisa. Isso é plenamente possível. Acontece
que tem que ter um candidato com a habilidade de tratar os partidos com o
respeito que os partidos merecem. Não adianta as pessoas quererem brigar com o
PT porque o PT aceita briga, mas é o maior partido de esquerda da América
Latina", afirmou Lula.
O ex-presidente disse
"lamentar profundamente" que o PT não faça parte de um grande
processo de aliança contra o bolsonarismo, mas lembrou que o partido chegou em
primeiro ou segundo lugar em todas as eleições desde 1989 e que, para abrir mão
da cabeça de chapa, depende de um "grande acordo".
"As pessoas não podem
querer que o PT abra mão dessa grandeza que o povo brasileiro lhe deu a troco
de nada. Ou apresenta um candidato maior do que o PT ou não tem chance. Para
poder ir para o segundo turno tem que passar pelo primeiro. Se não passar pelo
primeiro, acabou. O Barcelona achava que era bom, mas perdeu de 8 a 2 para o
Bayern de Munique (na semifinal da Liga dos Campeões da Europa). Você não pode
prescindir de um partido que tenha no começo de uma campanha 30% a troco de
que? Você não pode dar para outro partido sem um grande acordo", disse
Lula.
Para petistas, Lula ratificou
hegemonia do partido na esquerda
Segundo dirigentes petistas e
assessores de Lula, não foi a primeira vez que o ex-presidente traçou este
cenário. No partido, a leitura foi de que Lula mais ratificou a posição de
hegemonia do PT na esquerda do que acenou com a possibilidade de uma composição
com as demais forças de oposição.
Petistas lembram que quarta-feira,
19, em entrevista à rádio Folha de Pernambuco, Lula admitiu a possibilidade de
ele mesmo ser candidato em 2022, caso consiga reaver na Justiça o direito de
disputar eleições (ele foi condenado em segunda instância em dois processos por
corrupção e lavagem de dinheiro). Além disso, ele foi o principal incentivador
da estratégia de o PT lançar o maior número de candidatos possível na eleição
municipal deste ano.
Líderes da oposição que
trabalham há anos pela construção de uma frente ampla contra o bolsonarismo,
viram a declaração de Lula com otimismo e cautela. "A defesa de uma frente
progressista é altamente positiva. Estou muito confiante de que vamos unir
forças e vencer a próxima eleição presidencial. Quanto ao papel de cada
partido, temos tempo para debater", disse o governador do Maranhão, Flávio
Dino (PCdoB).
O presidente nacional do
Psol, Juliano Medeiros, também disse que ainda falta muito tempo até 2022.
Segundo ele, primeiro a oposição precisa ter bons resultados nas eleições
municipais.
"A eleição de 2022 ainda
está distante e a oposição precisa ter um bom resultado eleitoral esse ano para
só depois pensar em eleição presidencial. Mas é positivo que haja esse
desprendimento por parte do ex-presidente Lula, porque reconhece que o ciclo de
hegemonia de um único partido na esquerda acabou. Seja como for, unidade
eleitoral só se discute a partir de projeto de país e persistem diferenças
importantes entre os partidos de esquerda e centro-esquerda", disse ele.
Na entrevista de mais de duas
horas Lula não mostrou arrependimento quanto à campanha agressiva contra Marina
Silva (Rede) na reeleição de Dilma Rousseff, 2014, e criticou Ciro Gomes (PDT).
"Ciro deveria ter ficado no Brasil e declarado apoio ao (Fernando) Haddad
(no segundo turno de 2018), mas ele preferiu, num gesto de rebeldia, ir para
Paris", disse Lula.
O petista avaliou que o
presidente Jair Bolsonaro é um nome competitivo para a reeleição em 2022 e
defendeu calma por parte da oposição na hora de traçar uma estratégia de
combate eleitoral ao bolsonarismo.
"Quem tem o poder, quem
está no exercício do governo tem muita chance de ser competitivo na próxima
eleição. Temos que trabalhar com essa certeza. É preciso saber qual o discurso
que vamos construir, qual é a proposta alternativa que vamos fazer para
disputar as eleições.
E não adianta ficar nervoso nem chutando a parede. É com
muita tranquilidade, sabedoria e inteligência que a gente vai construir a
estratégia de retomada do desenvolvimento neste país", disse
ele./bahiaextremosul
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