Julgamento pode terminar ainda nesta
terça-feira
EUNÁPOLIS - O segundo dia do
julgamento dos acusados da morte do radialista Ronaldo Santana começou por
volta das 9h00 da manhã desta terça-feira (15), no fórum de Eunápolis, no
bairro Dinah Borges.
Os quatro réus são Paulo
Dapé, que era prefeito do município à época do crime e três servidores
comissionados do seu governo: Valdemir Batista Oliveira (atualmente vereador),
Antônio Oliveira Santos (bancário aposentado) e a sacerdotisa Maria Sindoiá.
No primeiro dia de
julgamento, 14 testemunhas foram dispensadas pela defesa, pois, segundo o
advogado de Paulo Dapé, Maurício Vasconcelos, elas não acrescentariam nada de
relevante ao processo. Durante a tarde de segunda, os réus foram interrogados.
Todos disseram que a morte do radialista seria de difícil solução, pois ele
criticava e denunciava muita gente. A fase dos debates entre defesa e acusação
deve ser concluída nesta terça-feira.
No fim da manhã, os
promotores Ariomar da Silva e Luiz Ferreira Neto pediram a condenação de Paulo
Dapé como mandante e os outros três réus com partícipes. À tarde, serão feitas
as defesas. “Entendemos que a prova produzida nao é suficiente para uma
condenação, pois ela é duvidosa. Por isso, estamos confiantes no conselho de
setença", declarou Maurício. A previsão é que o veredito seja pronunciado na quarta-feira (16).
O promotor de justiça Ariomar
da Silva afirmou ao RADAR 64 que os réus atuaram na intermediação, pagamentos,
empreitada do homicídio e outros foram os autores materiais. "São provas
contundentes, efetivas, inclusive já tem um condenado em virtude disso.
Nós
vamos fazer nosso papel, mas a comunidade de Eunápolis, através dos sete
jurados aqui, vai dizer se o caso comporta absolvição ou condenação. Temos nos
autos elementos suficientes para condenação", afirmou Ariomar,
acrescentando que os acusados adotaram todas as medidas possíveis para que o
julgamento não acontecesse.
O radialista Jota Bastos, que
apresenta um programa jornalístico na Ativa FM, em Eunápolis, afirmou que a
morosidade da justiça e os recursos protelatórios contribuem para que
"fique no ar a sensação de impunidade", fator determinante para que
mais profissionais da imprensa sejam mortos, como continuou ocorrendo na região
após o assassinato de Ronaldo Santana.
“Se houvesse rapidez no
julgamento, inocentando ou punindo os acusados, isso inibiria esse ataque a
imprensa. Porque muita gente quando se vê apertado, denunciado, tende a fazer o
que foi feito com Ronaldo Santana”, lamentou Bastos.
QUATRO TIROS CALARAM RONALDO
SANTANA - Ronaldo Santana, 38 anos, foi assassinado na manhã de 9 de outubro de
1997, na Avenida Duque de Caxias, centro da cidade, enquanto se deslocava para
o trabalho na Rádio Jornal. Baleado por dois homens que estavam em uma moto,
ele morreu pouco tempo depois no Hospital José Ramos Neto.
Paulo Sérgio Mendes Lima foi condenado a 19
anos de prisão em 2002
EXECUTOR PEGOU 19 ANOS - Em
novembro de 2002, após desmembramento do processo, o ex-policial militar Paulo
Sérgio Mendes Lima foi julgado em Eunápolis e confessou que o então prefeito
Paulo Dapé foi o mandante do crime. Os jurados acataram a tese do Ministério
Público de homicídio qualificado mediante recompensa e o condenaram por sete
votos a zero. Paulo Sérgio já cumpriu a pena.
Segundo denúncia do promotor
João Alves Neto, além de participar do crime, Paulo Sérgio contratou o executor
dos tiros que mataram Ronaldo Santana, Alexandro Borges, o Alex. Na ocasião, Dapé negou que
tivesse sido o mandante e que estava sendo "vítima de perseguição
política". Ele garantiu que tinha provas de sua inocência, mas preferiu
voltar suas baterias contra o promotor, a quem acusou de ter feito "uma
armação" para prejudicá-lo. João Alves não atua no julgamento desta
semana. Ele alegou impedimento.
Réus disseram que a morte do radialista é de
difícil solução, pois ele denunciava todo mundo
O advogado de Paulo Dapé,
Maurício Vasconcelos, afirmou ao RADAR 64, antes do início do julgamento, que
Paulo Sérgio tem sete versões para o crime. Já o advogado de Antônio Oliveira
declarou que a única acusação contra ele é um cheque no valor de R$ 500,00, que
teria sido pago a Paulo Sérgio. "Mas esse cheque não foi juntado aos
autos. Não por negligência, mas porque não existe", assegurou Fabrício
Frieber. Os demais acusados também
negam veemente o crime.
Quatro tiros calaram Ronaldo Santana, que fazia
denúncias contra a administração municipal
CRONOLOGIA DO CRIME
9/10/1997 – Ronaldo Santana
de Araújo é assassinado com quatro tiros na Rua Duque de Caxias, quando se
dirigia com seu filho, Márcio Alan, à Rádio Jornal, em Eunápolis, onde
trabalhava. Morreu poucas horas depois no hospital.
16/10/1997 – O delegado
especial Júlio Souza pede a prisão preventiva de Paulo Sérgio Mendes Lima,
suspeito da participação na morte de Ronaldo Santana.
10/11/1998 – Paulo Sérgio
Mendes Lima é preso em Goiânia (Goiás) por seu envolvimento no assassinato de
Sebastião Alves Nogueira, em 8/11/1998, naquele Estado. Ele confessa que foi
contatado para contratar as pessoas que mataram Ronaldo Santana e diz que o
mandante é o prefeito de Eunápolis, Paulo Dapé.
18/11/1998 – Paulo Sérgio
Mendes Lima dá novo depoimento em Salvador e confirma tudo o que disse em
Goiânia.
18/11/1998 – O delegado Júlio
Souza pede a prisão temporária de Maria José Ferreira Souza (Maria Sindoiá),
Antônio Oliveira Souza (Toninho do Caixa) e Waldemir Batista de Oliveira
(Dudu), citados por Paulo Sérgio Mendes Lima em seu depoimento como
intermediários no crime. Eles são levados a depor em Salvador. Negam seu
envolvimento no crime e são liberados em seguida.
19/11/1998 – Em acareação
feita com a funcionária Maria Sindoiá, Paulo Sérgio Mendes Lima confirma seu
depoimento. Maria Sindoiá diz que Lima esteve conversando com ela, mas não para
acertar a morte do radialista.
10/12/1998 – Na data de
comemoração dos 50 anos da Declaração Universal dos Direitos do Homem, 61
entidades assinam a Carta de Eunápolis pedindo o fim da impunidade.
22/01/1999 – O Departamento
de Direitos Humanos do Ministério da Justiça encaminha ao Ministério Público da
Bahia um pedido para agilizar a investigação sobre o assassinato de Ronaldo
Santana.
5/02/1999 – Paulo Sérgio
Mendes Lima dá um novo depoimento, com registro no cartório de Goiânia (Goiás).
Desmente tudo o que disse antes sobre o prefeito Paulo Dapé. Disse que deu o
primeiro depoimento sob pressão.
4/03/1999 – Paulo Sérgio
Mendes Lima dá um novo depoimento na Delegacia de Investigações Criminais em
Goiânia, novamente desmentindo que a ordem do assassinato havia sido dada por
Paulo Dapé e outros detalhes do primeiro depoimento.
15/03/00 – Lima é condenado,
em Goiânia, por crime de lesões graves com resultado presumível pela
participação na morte de Sebastião Alves Nogueira. A pena de um ano, quatro
meses e 15 dias de privação de liberdade, já havia sido cumprida, porque ele
estava preso desde novembro de 1998. Mas ele permanece na Casa de Prisão
Provisória devido ao pedido de prisão preventiva relativo ao crime de Ronaldo
Santana de Araújo, na Bahia. Diz que está convertido à Igreja Adventista.
27/11/02 - Paulo Sérgio
Mendes Lima foi condenado a 19 anos de prisão pelo assassinato do radialista
Ronaldo Santana. O julgamento ocorreu em Eunápolis e os jurados acataram a tese
do Ministério Público de homicídio qualificado mediante recompensa e o
condenaram por sete votos a zero./ RADAR 64
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