O presidente da SBCP, Hélio
Moreira, informou nesta terça-feira (12) à Agência Brasil que “há expectativa
de realizarmos em Óbidos 460 colonoscopias nessa população. Lembrando que são
pessoas que não têm sintoma nenhum. O único fator de risco que foi levantado
para definir o rastreamento foi a idade e, em seguida, presença de sangue
oculto nas fezes ou não”. Já foram feitas em Óbidos mais de 170 colonoscopias.
Nessas, diagnosticaram dois pacientes com câncer de intestino e cerca de 35%
com diagnóstico de pólipos, ou lesões, que foram removidos e, consequentemente,
tratados.”
O médico observou que, no
câncer de intestino, a prevenção é mais eficiente. “Quando você fala de câncer
de mama ou de próstata, a recomendação para realização de exames de prevenção,
na verdade, tem objetivo de diagnosticar a doença em um estágio precoce. Ela já
é um câncer. Já no câncer de intestino, o rastreamento é para detectar lesões
que ainda não viraram câncer e, quando tratadas com a remoção dessas lesões,
você evita de o indivíduo ter o câncer”.
Essas lesões, chamadas
pólipos ou verrugas, nascem dentro do intestino. Com a colonoscopia, esses
pólipos são tratados. Hélio Moreira esclareceu que embora aquele pólipo tenha
sido tratado, a pessoa pode ter novos pólipos no futuro. Mas o tempo que
decorre entre surgir um pólipo e ele virar um câncer varia de 8 até 10 ou 12
anos, destacou. “Não é uma coisa rápida”. Tirando esses pólipos agora, o médico
pode recomendar a repetição desse exame para rastrear novos pólipos em um
período longo, dando aos indivíduos a chance mínima deles terem um câncer de
intestino com esse tipo de rastreamento.
Estimativa
Estimativa do Instituto
Nacional de Câncer (Inca), vinculado ao Ministério da Saúde, são de 45.630
novos casos de câncer colorretal no Brasil, em cada ano do triênio 2023/2025,
afetando potencialmente mais de 136 mil brasileiros. O Inca aponta um risco
estimado de 21,10 casos por 100 mil habitantes, divididos entre 21.970 homens e
23.660 mulheres. Dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do
Datasus, referentes a 2020, indicam que 20.245 pessoas faleceram devido ao
câncer de cólon, reto e ânus, ressaltando a urgência de ações preventivas e de
conscientização.
“Para ter ideia de quanto
isso é um problema importante e precisa ter uma sensibilidade maior do poder
público para essa questão, em 2010, nós tivemos 23 mil casos de câncer de
intestino no Brasil. Em dez anos, dobrou o número de casos de câncer de
intestino. Hoje, é o segundo tipo de câncer mais frequente, tanto para homens,
como para mulheres, na nossa população. E a incidência vem aumentando de forma
alarmante”, assegurou Hélio Moreira.
O presidente da SBCP defendeu
o estabelecimento de um programa nacional que seja parte do calendário do
governo federal de rastreamento do câncer de intestino. Tanto a colonoscopia
como a pesquisa de sangue oculto nas fezes são feitos no âmbito do Sistema
Único de Saúde (SUS). “Mas é preciso organizar melhor o sistema, ampliar a
quantidade de clínicas que possam oferecer esses exames, para poder atender a
demanda que um programa de rastreamento de câncer de intestino vai gerar”.
Hélio Moreira admitiu que, em
um primeiro momento, o programa demandará muitos recursos. “Mas no médio e
longo prazo, vai se observar que uma quantidade imensa de pacientes que teriam
câncer não terão mais. Serão tratados endoscopicamente, uma quantidade imensa
de pacientes que são diagnosticados hoje em uma fase avançada de câncer, onde o
tratamento envolve cirurgia, quimioterapia, radioterapia e, mesmo assim com
taxas muito baixas de sobrevida dos pacientes.”
Moreira esclareceu que uma
vez que se implementa um sistema de rastreamento, diminui os gastos com
tratamento dos pacientes que têm câncer e melhora significativamente suas
chances de cura. “Então, no médio e longo prazo, esse investimento inicial é
amplamente justificado. Para salvar uma vida, qualquer gasto é justificado. Mas
até no ponto de vista financeiro, é muito mais interessante a gente implementar
um sistema de rastreamento do que deixar as coisas como estão hoje”, indicou.
Sintomas
Atualmente, no Brasil, mais
de 70% dos casos de câncer de intestino são diagnosticados em fase avançada da
doença. “É uma catástrofe”. Estamos falando aí de tratamentos caríssimos,
prolongados, sofrimento imenso do paciente e da família, afastamento de trabalho,
necessidade de uso de bolsas de colostomia, que poderiam ser evitados com um
sistema de rastreamento adequado,” explicou.
Moreira reforçou que no
diagnóstico do câncer de intestino na fase inicial, o sintoma mais comum é não
ter sintoma. “Quando tem sintomas, normalmente já são casos mais avançados e é
preciso que a população entenda que devem ser valorizados”. O principal sintoma
é a presença de sangue vivo nas fezes. Outros aspectos importantes são o
emagrecimento de causa desconhecida, o surgimento de uma anemia de causa
indeterminada e a presença de uma alteração do hábito intestinal. Ou seja, de
repente, o intestino, que funcionava de uma forma, começa a mudar o jeito de
funcionar: ele prende, tem episódios de diarreia, depois prende de novo.
“Quando isso acontece, valorize os sintomas e procure um médico especialista
para que ele possa avaliar a necessidade de uma investigação mais aprofundada.
Este é o quarto ano da
campanha Março Azul. Até o final deste mês, serão realizadas ações em todas as
capitais e em algumas cidades de médio e pequeno porte, com caminhadas,
distribuição de panfletos, audições públicas, entrevistas, tudo com interesse
maior de alertar a população sobre esse tema, tão importante para a saúde.
A cada ano, o mutirão de
exames presenciais é feito em uma cidade específica. No ano passado, por
exemplo, ocorreu em Cairu (BA) e, no ano retrasado, em Pilar (AL). “A gente vai
escolhendo, normalmente, cidades de difícil acesso, com pouca oferta de exames
de endoscopia para a região, onde realmente a campanha pode trazer um impacto
gigantesco para aquela população”, disse o presidente da SBCP.
Fatores de risco
As três entidades que participam
da campanha enfatizam que o tumor intestinal pode ser influenciado por diversos
fatores de risco, incluindo histórico familiar de câncer, sobrepeso ou
obesidade, idade igual ou superior a 50 anos, uma dieta rica em alimentos
processados e carne vermelha, tabagismo, consumo excessivo de bebidas
alcoólicas e a presença de doenças inflamatórias intestinais, como retocolite
ulcerativa e doença de Crohn.
A prevenção do câncer de
intestino está ligada a um estilo de vida saudável, que inclui prática regular
de exercícios físicos, manutenção do peso ideal, abstenção do tabagismo e
consumo moderado de bebidas alcoólicas. Além disso, recomenda-se a adoção de
uma dieta rica em verduras, frutas, legumes, farelos e cereais integrais, beber
cerca de dois litros de água por dia e limitar o consumo de carne vermelha e
alimentos ultraprocessados e embutidos.
A Campanha Março Azul 2024,
dedicada à conscientização sobre o câncer de intestino, está disponível no
site, onde podem ser encontradas
informações sobre a doença, incluindo métodos de prevenção, fatores de risco,
diagnóstico e opções de tratamento. A iniciativa conta com o apoio
institucional da Associação Médica Brasileira (AMB) e do Conselho Federal de
Medicina (CFM)./Agência Brasil