A artesã Soeli Aparecida
Maia, 59, nunca anulou o voto, mas já decidiu que, em 2018, essa será a sua
opção na urna. Mulher, com idade acima dos 45 anos, moradora do interior, Soeli
está dentro do perfil dos eleitores onde o voto nulo é mais popular. E, nestas
eleições, ele deve ser mais forte do que nas últimas quatro eleições.
A pouco menos de um mês das
eleições, 13% dos eleitores se dizem dispostos a anular seu voto ou votar em
branco para presidente, segundo pesquisa Datafolha divulgada na última
sexta-feira (14). Dos que optam pelo voto nulo ou branco, 61% dizem que não mudarão
de opinião. O índice é bem superior ao encontrado em pesquisas Datafolha feitas
cerca de um mês antes das eleições de 2014, 2010, 2006 e 2002 — era 6% em 2014
e 4% nas demais.
Se seguir o exemplo dos dois
últimos pleitos, a parcela de quem não vai optar por nenhum candidato ainda
pode ser mais expressiva nas urnas: em 2014, 9,6% dos eleitores de fato
anularam ou votaram em branco. Em 2010, foram 7%.
O voto nulo e branco também
só não perde em convicção, nas últimas pesquisas, para os votos declarados em
Jair Bolsonaro (PSL) e em Fernando Haddad (PT). No levantamento divulgado na
sexta, 75% e 72% diziam estar “totalmente decididos” a votar nesses candidatos,
respectivamente.
Soeli é uma das eleitoras que
se diz disposta a manter sua decisão de anular até o segundo turno. “Há várias
eleições, a gente escolhe entre o ruim e o pior, por isso o Brasil está onde
está. Agora resolvi dar um basta. Pelo menos da minha parte, não vou colocar
nem o ruim e nem o pior lá”, afirma ela, que mora em Sonora, cidade de 15 mil
habitantes no norte do Mato Grosso do Sul.
Para o diretor do Datafolha,
Mauro Paulino, o alto índice de intenções de voto nulo ou branco —e de
convicção— revela uma “manifestação de descontentamento dos eleitores, de não
se sentirem contemplados pela oferta de candidatos e de partidos que está aí”.
“O que a gente tem até aqui
mostra ser grande a probabilidade que a gente tenha uma taxa de brancos e nulos
maior do que nas últimas eleições”, diz Paulino.
O cenário com alto índice de
votos brancos e nulos favorece o candidato que está na liderança, já que
diminui o universo dos votos válidos e, por consequência, o número de votos
necessários para passar para o segundo turno ou para ser eleito em primeiro
turno.
A eleitora Fabiana da Costa,
39, que mora em São Paulo, diz não se importar que seu voto nulo acabe
beneficiando um candidato que ela não apoie. “Medo a gente tem do futuro, mas
eu sinceramente pretendo anular mesmo. Não confio em nenhum dos que estão aí.”
Desempregada e com uma filha
de 10 meses, Fabiana se diz desiludida com o cenário político atual —e afirma
que só irá até a seção eleitoral no dia do pleito para não ter complicações com
o título de eleitor quando conseguir um trabalho.
Para o vigilante Reinaldo
Dantas, 54, de Carapicuíba (SP), no entanto, o voto nulo será uma forma de
protesto. Ele, que já anulou nas eleições municipais de 2016, quer repetir
agora a sensação de sair da seção eleitoral “de cabeça erguida”.
“Eu não vejo nenhum plano de
governo a favor da nação. Eu gostaria que todo mundo desse uma resposta nas
urnas”, afirma Dantas.
Segundo o último Datafolha,
mais da metade dos que declararam votar branco ou nulo continuam com esta opção
no segundo turno, em todos os cenários apresentados.
No universo total, o cenário
de segundo turno que teria menos votos nulos ou brancos (15%) é uma eventual
disputa entre Bolsonaro e Ciro Gomes (PDT). Em três outros cenários, o número
de votos em nenhum candidato chega a 25%: quando Geraldo Alckmin (PSDB), Marina
Silva (Rede) ou Ciro enfrentam Haddad.
Além das mulheres e eleitores
mais velhos e do interior, o voto nulo ou branco faz mais sucesso entre quem
tem formação até o ensino médio e renda mensal de até dois salários mínimos
(47% dos que anulam ou votam branco têm esse perfil).
Dentro do grupo, 73% também
dizem não ter partido de preferência e 28% rejeitam todos os candidatos.
Bolsonaro, Marina e Haddad são os menos populares entre os que pretendem
anular, com 39%, 20% e 16% dizendo que nunca votariam neles, respectivamente.
Ainda não está claro o quanto
a oficialização da candidatura de Haddad, na última semana, poderia impactar
nos próximos dias no número de nulos e brancos. No entanto, 55% dos que
declaram esse voto responderam que não apoiariam um candidato indicado pelo ex-presidente
Lula.
Outra peculiaridade das
eleições deste ano é a alta parcela de indecisos a um mês das eleições. Na
resposta espontânea, quando o entrevistador não mostra ao entrevistado a lista
de candidatos, 32% disseram não saber em quem vão votar. Em 2014, esse índice
era de 29% no mesmo período.
“Isso revela um comportamento
desta eleição, de eleitores mais cautelosos, que esperam para decidir mais para
a frente”, diz Paulino.
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