Ao resolver mudar de sexo, delegada tem o apoio dos colegas de trabalho

Casado e com dois filhos, Tiago era delegado da Polícia Civil em Goiás. Ele decidiu seguir seu sonho e, após cirurgia de mudança de sexo e algumas plásticas, agora atende por ‘Laura’ e vai trabalhar da Delegacia da Mulher.

Nesta segunda-feira (3), Goiânia terá uma nova delegada especializada no atendimento à mulher: Laura Teixeira. Só que, até bem pouco tempo atrás, "ela" era "ele": o delegado Tiago. Qual terá sido o motivo dessa mudança radical?

Sandálias, blusas e calças novas. Uma tarde inteira só para as compras. Tudo bem feminino, e tudo novidade para Laura. Laura, 33 anos, até setembro passado era o delegado Tiago, da Polícia Civil em Goiás. Depois de uma complexa cirurgia de mudança de sexo, plásticas no rosto e próteses nos seios, ela começa agora uma nova história.

A operação foi feita na Tailândia, país conhecido por fazer esse tipo de procedimento com custos mais baixos. Honório Jacometto, repórter: Você olhando assim para o espelho, gostou do estilo? Está bacana?

Laura de Castro Teixeira, delegada: Está bacana, eu gostei. Em casa, o guarda roupas começa a ganhar uma nova cara. Honório: Eu estou vendo aqui embaixo, tem sapato social. É de quando você trabalhava como delegado?

Laura: Isso!

Honório: Faz tempo que você não usa.
Laura: Bastante.

Honório: Eu estou vendo aqui que seu guarda-roupa está mais ou menos assim: metade doutora Laura, metade Tiago. A gente já pode então decretar que a partir de hoje essa parte do Tiago morreu de vez?
Laura: Morreu de vez!

Laura decidiu assumir o desejo de fazer a cirurgia de mudança de sexo há dois anos. Na época, ainda Tiago, vivia com a esposa e os dois filhos.

Laura: Desde que eu tenho memória eu queria ser mulher. Só que assim, eu tentei ir contra, tentei viver como menino, eu tentei realmente fazer o meu papel social, só que chegou um ponto que eu não dei conta mais.

Honório: A parte mais difícil foi encarar a cirurgia ou contar para a sua família que você deixaria de ser o Tiago e viraria uma mulher? Laura: O difícil mesmo, o que pesou para mim foi me assumir, assumir para as pessoas mais caras para mim. Quando eles ficaram sabendo, para eles foi realmente um choque, mas em nenhum momento eu deixei de ter apoio na Polícia Civil o caso vem sendo tratado com naturalidade.

 “A transparência da Laura nos ajudou, nos auxiliou. As primeiras pessoas a serem informadas foi o chefe imediato e posteriormente a direção da Polícia Civil. Isso, para nós, não é o menor problema, o problema para nós é policial corrupto, policial omisso, policial descompromissado com o público, com a instituição. E isso pra nós é só motivo de orgulho e respeito pelo ato de coragem", declara Daniel Adorni, delegado geral-adjunto.

Depois de ficar afastada seis meses da polícia para se recuperar da cirurgia, nesta segunda-feira (3) a doutora Laura volta ao trabalho. Desta vez em uma delegacia no centro de Goiânia. A Delegacia de Defesa da Mulher.

Neste fim de semana Laura foi conhecer os novos colegas. “Eu tenho certeza que a doutora Laura está no melhor lugar. Ela vai ser muito bem recebida e vai ser mais uma colega aqui. Vai ser mais uma delegada da Delegacia da Mulher”, diz Ana Elisa, chefe da Delegacia da Mulher.
Oficialmente, no papel, a doutora Laura ainda não existe.

A mudança de sexo foi feita, mas os documentos ainda não saíram. Essa mudança de nome depende de uma autorização da Justiça. “Na próxima semana, com certeza, tudo vai dar certo e ela vai conseguir realizar o grande sonho da vida dela que é se tornar a doutora Laura”, afirma André Morais, advogado de Laura.

Honório: Você está contente com esse novo corpo? Laura: Completamente. Hoje eu me vejo e eu me sinto eu mesma quando me vejo no espelho. É uma nova vida, né?/G1