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segunda-feira, 9 de março de 2015

Propina obedecia tabela de preço e provocava briga no PP, diz doleiro


Alberto Youssef: propina a políticos cuja origem era a Petrobras(Foto:Divulgação)

Pelo menos 20 dos políticos que serão alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal por envolvimento na Operação Lava Jato receberam, em 2014, doações eleitorais registradas de empreiteiras acusadas de formar um cartel para superfaturar obras da Petrobras. Foram quase R$ 14 milhões, distribuídos a candidatos a governador, senador e deputado federal.

Das 16 empresas que, segundo as investigações da Polícia Federal, teriam participação no cartel, sete fizeram contribuições diretas às campanhas de políticos envolvidos no escândalo.

A lista de contemplados com doações pode aumentar, já que governadores eleitos também serão alvo de pedidos de abertura de inquérito – seus casos serão analisados pelo Superior Tribunal de Justiça. A relação tampouco desvenda todas as apostas eleitorais das empreiteiras.

O levantamento do Estadão Dados se limita à disputa de 2014 porque, antes disso, as empresas podiam fazer as chamadas doações ocultas, nas quais era impossível rastrear as conexões entre financiadores e financiados. Alguns dos investigados – entre eles o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) –, foram eleitos em 2010 e não concorreram na disputa do ano passado.

O ranking de contribuições em 2014 é encabeçado por três candidatos a governador, cujas campanhas são mais caras – além disso, se eleitos, eles têm poder de decisão sobre a alocação de recursos para obras, tema de interesse direto das empreiteiras. Os primeiros da lista são os senadores Lindbergh Farias (PT-RJ), Gleisi Hoffmann (PT-PR) e Benedito de Lira (PP-AL), que concorreram aos governos do Rio de Janeiro, do Paraná e de Alagoas, respectivamente. Nenhum deles foi eleito em 2014. Todos voltaram, portanto, aos seus mandatos no Senado.

Os outros postos são ocupados por 17 deputados e senadores investigados e contemplados por doações do cartel. Nesse bloco, o PP se destaca: 12 dos parlamentares (70,6% do total) são filiados ao partido. Os demais nomes são do PT (3), do SD (1) e do PSDB (1).

Quando o que se observa não é o volume das contribuições, mas o número de financiadores, o primeiro colocado é o senador tucano Antonio Anastasia, ex-governador de Minas Gerais. Ele recebeu doações de cinco das empreiteiras acusadas de formar o cartel da Petrobras.

Três das empreiteiras da lista são responsáveis por dois terços das doações eleitorais aos políticos agora investigados: UTC Engenharia, Construtora Queiroz Galvão e Galvão Engenharia, nessa ordem. As duas primeiras fizeram, cada uma, doação de valor idêntico à campanha do petista Lindbergh Farias: R$ 1,425 milhão. As doações da Queiroz Galvão foram as mais abrangentes: chegaram a 10 dos 20 políticos da lista do Supremo. A seguir aparecem OAS e UTC, com oito e sete financiados, respectivamente.

O ministro do Supremo Teori Zavascki determinou a abertura de investigação criminal sobre 50 pessoas, entre elas 22 deputados federais, 12 senadores e o vice-governador da Bahia João Leão (PP). Estão na lista cinco ex-ministros do governo Dilma Rousseff (Aguinaldo Ribeiro, Mário Negromonte, Edison Lobão, Gleisi Hoffmann e Antonio Palocci).

O inquérito que narra a disputa por propinas dentro do PP é o maior entre os 23 abertos pelo ministro Teori Zavascki, relator dos autos da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF). São, ao todo, 39 investigados, dos quais 32 são parlamentares e ex-parlamentares do PP.

E os trechos das delações premiadas usados para embasar o pedido de abertura do inquérito revelam como funcionava o suposto pagamento de propina aos políticos. Segundo o doleiro Alberto Youssef, o dinheiro desviado de contratos da Petrobras para o pagamento de mesada a parlamentares era transportado em espécie e colado ao próprio corpo de operadores quando o valor não ultrapassava R$ 500 mil. O próprio doleiro teria adotado essa prática. Para montantes maiores, o dinheiro era levado em aeronaves fretadas.


Integrantes da cúpula do partido, conforme as delações, recebiam entre R$ 250 mil e R$ 300 mil por mês. Os outros parlamentares, entre R$ 30 mil e R$ 150 mil. Havia casos de pagamentos quinzenais e até semanais. Repasses extras ocorriam na escolha do líder da legenda, todos os anos, para que o grupo interno que operava o esquema fosse escolhido para comandar a sigla. Outro relato dos delatores aponta que a defesa jurídica de parlamentares pepistas foi paga com dinheiro desviado da Petrobras.

O ex-ministro das Cidades Mário Negromonte recebeu dinheiro em casa, segundo Youssef. Além disso, quando era ministro, teve os custos de uma aeronave bancados por dinheiro do esquema, como consta no depoimento.

Um dos deputados citados recebeu repasses no valor de R$ 150 mil para custear vacina para o tratamento de hepatite C, conforme o depoimento do doleiro. Parlamentares do PP organizaram uma homenagem a Paulo Roberto Costa, quando ele estava no exercício da diretoria de Abastecimento da Petrobras. Costa era uma indicação do partido e os contratos de sua área foram a fonte para a propina distribuída aos políticos, conforme as investigações. Na homenagem, o diretor foi presenteado com um relógio de marca Rolex, conforme relato de Costa na delação premiada.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apontou no pedido de inquérito uma “simbiose entre os grupos de políticos que comandavam o esquema ilícito implantado nas diretorias da Petrobras”. Foi por essa razão que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e mais três expoentes do partido acabaram avocados para esse inquérito. A bancada do PMDB no Senado – mais especificamente Renan, Edison Lobão (MA), Romero Jucá (RR) e Valdir Raupp (RO) – movimentou-se para manter Costa na diretoria de Abastecimento./Agência Estado

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