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terça-feira, 14 de março de 2023

Morre o ex-ministro Eliseu Padilha, aos 77 anos

Eliseu Padilha foi ministro-chefe da Casa Civil durante o governo de Michel Temer

Um dos mais articulados políticos de sua geração, o ex-ministro e ex-deputado federal Eliseu Padilha morreu na noite desta segunda-feira (13), em Porto Alegre. Aos 77 anos, Padilha sucumbiu ante um câncer que enfrentava desde 2018. Ele estava internado no Hospital Moinhos de Vento desde 22 de fevereiro de 2023. O falecimento ocorreu às 22h49min. 

Eliseu Lemos Padilha era um exímio observador da cena política nacional. Em quatro mandatos de deputado no Congresso Nacional, antecipava com precisão o resultado de votações importantes, sendo considerado um oráculo pelos colegas. Tamanha capacidade de previsão fazia dele um analista político cobiçado pelo governo de plantão e sempre consultado pelos demais partidos, fossem aliados ou adversários.  

Para exercer o dom, Padilha montava extensas planilhas nas quais computava a intenção de voto de cada parlamentar. A partir do mapeamento prévio, entrava em ação conversando ao pé de ouvido com os colegas que considerava ser passíveis de mudar de posição. Foi assim que atuou em momentos decisivos dos governos Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), Dilma Rousseff (2011-2016) e Michel Temer (2016-2018), nos quais foi ministro.  

Padilha nasceu em Canela, na serra gaúcha, na antevéspera do Natal de 1945. Filho de um casal vinculado ao trabalhismo, demorou a se interessar por política. Primeiro, se encantou pelas artes, atuando em peças de teatro e na banda marcial do Colégio Maria Imaculada. Se consagrou nos palcos vivendo ora Gumercindo Tavares, personagem do monólogo As Mãos de Eurídice, de Pedro Bloch, ora tocando com rara precisão pistom e corneta — habilidade que lhe rendeu o primeiro emprego, como afinador em uma fábrica de acordeões.  

Na mesma época, Padilha começava a dar os primeiros passos na política, se aproximando dos grêmios estudantis. Em seguida, passaria a acompanhar um dos mais proeminentes políticos da região, Pedro Simon. Em 1966, ao se formar em Contabilidade, Padilha escolheu Simon como paraninfo da turma. À época, o emedebista montava a comissão provisória do partido em Canela, entregando ao pupilo o cargo de secretário-executivo. 

Padilha não permaneceu muito tempo na cidade. No ano seguinte, mudou-se para Tramandaí, ingressando no ramo da construção civil no Litoral Norte. Em parceria com o empresário Affonso Penna Khury, se tornou um dos maiores incorporadores imobiliários da região.  

Passou todo o regime militar atuando na iniciativa privada, mas sem jamais se desligar da política. Formado em Direito pela Unisinos, em 1988 concorreu a prefeito de Tramandaí. Numa disputa ferrenha, venceu o candidato do PDT por apenas 90 votos de diferença (3.556 a 3.466). Ao final do mandato, já era um dos mais atuantes quadros do MDB, sendo um dos principais estrategistas da exitosa campanha que elegeu Antônio Britto governador do Estado em 1994. 

Padilha se elegeu deputado federal no mesmo ano, mas acabou seduzido pelo convite de Britto para assumir a Secretaria Estadual do Trabalho, Cidadania e Assistência Social. O encanto durou pouco e, ao cabo de 10 meses, assumiu a cadeira na Câmara. Não tardou a galgar o posto de vice-líder do PMDB, atuando com destreza na aprovação da emenda da reeleição, que permitiu um segundo mandato consecutivo para presidente, governadores e prefeitos.  

A desenvoltura logo atraiu a atenção do líder do partido, Michel Temer, então debutando na Casa. No início de 1997, quando o então presidente Fernando Henrique Cardoso precisou aumentar sua base de sustentação no Congresso e decidiu levar o MDB ao governo, Padilha deu o grande salto. Indicado por Temer, e chancelado por Britto e Nelson Jobim, chegou ao Ministério dos Transportes. 

Na mesma época, Temer assumia pela primeira vez a presidência da Câmara. Logo estabeleceram amizade profunda e leal. Com o fluminense Moreira Franco, assessor de Temer na presidência da Casa, formaram um dos mais influentes triunviratos do MDB.  

Na Esplanada, Padilha não tardou a lapidar os atributos de articulador político. Ao mesmo tempo, se especializou na coordenação de campanhas eleitorais, ajudando na vitória de aliados país afora. Em compensação, enfrentou as primeiras adversidades. Sob a suspeita de cobrança de propina para liberação de pagamentos no Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER, atual Dnit), demitiu dois diretores e passou incólume pelo escândalo. 

Padilha se elegeu para dois mandatos sucessivos na Câmara, em 2002 e 2006. Chegou a sonhar em concorrer ao governo do Estado em 2006, mas abandonou a ideia após o fracasso naquele ano da pré-candidatura presidencial do então governador Germano Rigotto, o que levou o correligionário a disputar a reeleição. 

Em 2010, tomou um susto ao ficar de suplente de deputado, após deixar a própria eleição em segundo plano para ajudar na montagem da aliança com o PT na chapa Dilma-Temer e na coordenação da campanha emedebista nos Estados. Sua atuação contrariou aliados gaúchos, já que PT e MDB são adversários históricos no Rio Grande do Sul, mas jamais diminuiu sua influência no partido. Pensou em concorrer ao Senado em 2014, mas novamente abortou o plano em razão da dedicação à reeleição da dupla Dilma-Temer. 

Voltaria à Esplanada em 2015, após a reeleição de Dilma. Na época, o governo sofria forte rejeição nas ruas e no Congresso. Escalado como ministro-chefe da Secretaria de Aviação Civil, na verdade tinha como missão ajudar na articulação do governo com sua base parlamentar. Todavia, diante dos desacertos entre Dilma e Temer, deixou o cargo em 11 meses e passou a ajudar o vice-presidente nas articulações políticas em meio ao processo de impeachment.  

Com Dilma fora do governo e Temer instalado no principal gabinete do Palácio do Planalto, Padilha foi chefe da Casa Civil e articulador do novo governo. Conduziu a aprovação da reforma trabalhista e coordenou as votações que barraram em plenário duas denúncias criminais que poderiam afastar Temer da Presidência.  

Logo tornou-se também alvo da Lava-Jato. Em setembro de 2017, Padilha foi um dos sete nomes denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por organização criminosa. Segundo a PGR, o grupo pediria propina em troca de influência em pastas e estatais. No dia 7 de março de 2023, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) manteve a decisão que absolveu, em 2021, os políticos acusados no caso, entre eles Padilha. 

Ao final do governo Temer, em 2018, enfrentou problemas sérios de saúde. Em janeiro de 2019, fez um autotransplante de medula no Hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo, para erradicar um mieloma múltiplo. O procedimento exigiu sessões de quimioterapia que o enfraqueceram bastante. Em 18 de julho do mesmo ano, sofreu hemorragia cerebral superficial, ficando internado no Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre. 

A doença e as complicações jurídicas fizeram Padilha submergir. Evitava aparições públicas e declarações sobre conjuntura política, dedicando-se apenas à família e aos negócios. Em 2022, voltou a circular durante a pré-campanha de Gabriel Souza, seu afilhado político, ao governo do Estado. Participou de articulações na formação de alianças e ajudou Gabriel a convencer o MDB a indicá-lo vice de Eduardo Leite na chapa ao Piratini. Esteve na festa da vitória e voltou a despachar na sede do partido, no centro de Porto Alegre, delegando tarefas e cobrando resultados.  

Em fevereiro, Padilha soube que o câncer já estava em fase de metástase. Foi internado para fazer quimioterapia, mas as sessões não surtiram o efeito desejado, e o quadro se agravou nos últimos dias. 

Padilha deixa sua esposa, Simone Camargo, seis filhos (Christiane, Aline, Robinson, Taoana, Tales e Elena), cinco netos (Catherine, Victor, Letícia, Gabriella e Rafael) e o irmão, João Padilha. 

O velório ocorrerá na quarta-feira (15), das 10h às 17h, no Palácio Piratini, em Porto Alegre, em solenidade aberta ao público. Após, o corpo será leavdo ao Angelus Memorial e Crematório para uma cerimônia restrita aos familiares./gauchazh

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