A Colômbia chorava neste
domingo os mais de 200 mortos por um deslizamento de terra em Mocoa, enquanto
os socorristas lutavam contra o tempo para buscar sobreviventes e o governo
enviava ajuda humanitária, após as chuvas torrenciais que também atingiram Peru
e Equador. O último balanço oficial aponta um total de 210 mortos e mais de 200
feridos após o transbordamento de três rios à meia-noite de sexta-feira,
"um mar de lama" que arrastou tudo por onde passou, segundo
testemunhas.
"De 210 pessoas
falecidas, foi possível identificar 170. Não há desaparecidos oficialmente, nem
nenhuma criança desamparada", informou no Twitter o presidente Juan Manuel
Santos, que lidera na zona os trabalhos de ajuda e reconstrução. Em Mocoa,
capital de Puntamayo, devastada pela tragédia, os socorristas continuavam
auxiliando os afetados, e os trabalhos de resgate foram retomados. "Continua
o trabalho de buscas para encontrar sobreviventes, ainda estamos dentro da
janela de 72 horas posteriores a um desastre desse tipo", disse à AFP um
porta-voz da Cruz Vermelha Colombiana (CRC).
Sob um céu nublado, mas sem
chuva, pessoas caminhavam entre barcos, pedras, galhos de árvore e escombros em
busca de entes queridos, ou para tentar recuperar seus pertences. "Fui
procurar minha sobrinha, mas não a encontrei. Cavei e cavei, até que encontrei
a mão de um bebê, foi horrível. Ela foi levada pela lama, não voltarei a
vê-la", contou desolada à AFP Marta Gómez, de 38 anos. O Defensor do Povo
de Putumayo, Fabián Vargas, afirmou que continuam os trabalhos de identificação
de dezenas de cadáveres que permaneciam no domingo no hospital da cidade.
"O processo já está em
andamento com o pessoal de medicina legal", apontou. O governo também
procura evitar o surgimento de epidemias nessa cidade amazônica quente e úmida,
e para isso se prevê o traslado de especialistas para desenvolver um plano de
prevenção de infecções, informaram autoridades de saúde. A maior parte dos
bairros atingidos é pobre e com a população deslocada pelo conflito armado de
meio século que atinge a Colômbia, de acordo com testemunhas.
- "Voz de alento" -
"Hoje viajo novamente a Mocoa para garantir a máxima atenção, no menor
tempo possível, para atender às necessidades dos atingidos", tuitou, mais
cedo, o presidente Juan Manuel Santos. Em sua conta no Twitter, o presidente
disse que avançava no restabelecimento das estradas, e falou sobre o apoio
humanitário enviado para a remota localidade, onde ao menos duas pontes foram
destruídas, segundo o Exército.
Além disso, agradeceu ao Papa
Francisco por dar sua "voz de alento". "Lamento profundamente a
tragédia que atingiu a Colômbia", disse Francisco durante uma missa em
Carpi, no norte da Itália. "Rezo pelas vítimas, e quero garantir minha
proximidade daqueles que choram pelos desaparecidos", acrescentou o
pontífice, que tem uma visita à Colômbia prevista para setembro. Os vizinhos
Equador, Venezuela e Peru expressaram sua solidariedade à Colômbia, assim como
a ONU e a União Europeia. - "Não há energia" - Mocoa, de 40.000
habitantes, continua sem energia elétrica e água corrente, serviços que o
governo tenta restabelecer o quanto antes e cuja falta é amenizada por
toneladas de equipamentos levados à área.
"Não há energia. Não
temos água. Nada", assegurou à Blu Radio Rocío Hernández, enquanto
carregava seu bebê para subir, no sábado, uma montanha, para se refugiar e
passar a noite em um albergue. Esta jovem mãe solteira teve que sair correndo
no meio da noite, debaixo de chuva, e o medo de que um deslizamento de terra se
repita ainda a persegue. "A água tem um problema estrutural, isso vai
levar tempo. Então por um lado estamos trazendo mais caminhões-pipa, estamos
habilitando as pontes que estavam destruídas e ao mesmo tempo aceleramos as
reconstruções da parte estrutural", como a água e a energia, explicou
Santos a jornalistas.
A Força Aérea sobrevoou a
área e não encontrou nenhum indício de represamento em rios, minimizando a
possibilidade de um novo deslizamento. "Estima-se uma diminuição das
precipitações para segunda e terça-feira da próxima semana", indicou o
Instituto de Hidrologia, Meteorologia e Estudos Ambientais da Colômbia (Ideam),
citado pela Presidência. Este deslizamento supera o último grande desastre
natural na Colômbia, que ocorreu em Salgar, a 100 km de Medellín, e deixou 92
mortos em maio de 2015.
A "natureza e a
magnitude do evento, a catástrofe, a tragédia, é tremenda", disse à AFP
Martín Santiago, chefe da ONU para a Colômbia.
Ele destacou como o ocorrido
em Mocoa mostra que as mudanças climáticas estão gerando episódios mais
extremos. "Vemos os resultados tremendos do ponto de vista da intensidade,
da frequência e da magnitude destes efeitos naturais", assinalou. As
fortes chuvas na América do Sul não atingiram somente a Colômbia. O Peru vem sendo
afetado desde o início do ano por chuvas e deslizamentos de terra que, até o
momento, deixaram 101 mortos e mais de 1 milhão de danificados. No Equador,
foram registradas 21 mortes desde janeiro, com 9.409 famílias atingidas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário