A legislação eleitoral exige que os candidatos deixem os planos de governo à disposição dos eleitores para consulta. É uma forma de comparar propostas, de analisar as diferenças. Mas também é um jeito de encontrar semelhanças muito suspeitas.
Na escola, copiar um trabalho da internet... “É muito grave. Quando a gente copia um trabalho significa que a gente não tem as nossas próprias ideias. Quando isso acontece comigo, por exemplo, primeira coisa que eu faço, eu pergunto para eles, de onde tu tiraste isso? Eles têm que ter a referência e saber falar sobre aquilo realmente com convicção”, diz a professora Ana Maria de Souza.
E quando a cópia é feita por um candidato à prefeitura? Sem o mínimo constrangimento, propostas são copiadas palavra por palavra, e inseridas em programas de governo apresentados à Justiça Eleitoral.
Veja este exemplo, uma ideia na área da segurança: "Promover a pesquisa e a inclusão das ciências aplicadas à redução da criminalidade, bem como interagir com a comunidade acadêmica para realizar estudos visando o entendimento mais apurado do fenômeno da violência/criminalidade." A reportagem identificou esta proposta exatamente igual em 13 candidaturas pelo país, em dez estados diferentes. Aparece, inclusive, em programas de candidatos adversários na mesma cidade.
Na área do meio ambiente também: “Identificar, restaurar, conservar e incentivar a conservação de áreas de nascentes, incluindo essas áreas na regulamentação da reserva particular de patrimônio natural municipal”. Parece algo bem específico de uma determinada cidade. Só que foi encontrada exatamente assim em 18 candidaturas em dez estados E por aí vai.
A equipe do Jornal Nacional encontrou pelo menos 41 propostas que aparecem de forma idêntica em diversas candidaturas pelo país. Para a cientista política Céli Pinto, a cópia de propostas é um sintoma da crise política e partidária. “Nós estamos realmente em um momento muito crítico. Eu acho que essa falta de responsabilidade, inclusive, alguma coisa que chega a quase beirar o crime, esse plágio generalizado é a falta de responsabilidade com a coisa pública, com as eleições municipais”, afirma Céli Pinto, doutora em ciência política, professora titular do Departamento de História da UFRGS.
“Normalmente quem faz isso é porque não vai cumprir essas promessas eleitorais”, destaca Raul Faraco, juiz. O Tribunal Superior Eleitoral afirmou que a legislação que obriga os candidatos a apresentar o plano de governo não prevê nenhum tipo de questionamento sobre o conteúdo.
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