Conversas do dono da
Telexfree, Carlos Costa, com o sócio Carlos Wanzeler, apresentadas em fevereiro
pelo Ministério Público Federal à Justiça Federal no Espírito Santo, mostram
que o empresário zombava dos investidores, chamando-os de “povo burro”. As
provas das irregularidades, coletadas durante a Operação Orion em 2014, foram
retiradas do sigilo pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região.
Em várias mensagens, Costa e
Wanzeler discutiam sobre o percentual de divulgadores que não pediam resgaste das
remunerações conquistadas com o negócio e comemoravam o alto índice de
reinvestimento na empresa.
Os dois também conversaram
sobre estratégias para mostrar legalidade no negócio. Uma das armas, segundo
Costa, seria pagar impostos. “Isso seria como investimento para manter o
negócio… pois provamos com impostos que temos clientes seja onde for no mundo…”,
escreveu Costa para Wanzeler em janeiro de 2013 assim que veio à tona as
investigações envolvendo a empresa.
As atividades da Telexfree
foram suspensas, a princípio, de forma liminar em junho de 2013 pela Justiça do
Acre. Todos os bens dos sócios da companhia e de familiares, cerca de R$ 700
milhões em dinheiro, além de imóveis e carros, foram bloqueados. De acordo com
a denúncia do MPF, para continuar a captar recursos de investidores e manter
altos lucros, os empresários burlaram essa decisão judicial, cadastrando novos
associados, residentes no Brasil, por uma suposta rede americana.
O caso foi revelado em
reportagem publicada em 5 de setembro de 2013. Em troca de mensagens com
Inocêncio Pereira Reis Neto, o Pelé, Carlos Costa mostrou preocupação em ter os
planos frustrados após divulgação da matéria. “... parece que saiu na gaceta
(sic) sim que líderes estariam fazendo rede no exterior… então muito cuidado no
dia de hj (sic)”. O braço americano da Telexfree atuou até 13 de abril de 2014,
quando a empresa entrou com pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos.
Outros diálogos dos empresários, no entanto, revelam que, pelo menos um mês
antes, a empresa já não tinha mais condições de pagar os lucros conquistados
pelos divulgadores.
Num bate-papo pelo Skype, no
dia 7 de abril de 2014, Carlos Costa afirma para Wanzeler que mais de 70%
reinvestiu os ganhos. “...pode confiar em mim nesse número. Eles sempre fazem
isso e vc (sic) sabe disso… se não for mais. kkkkk. Povo burro. kkkkkk”. Em
setembro de 2015, a empresa foi condenada pela 2ª Vara Cível de Rio Branco a
ressarcir os divulgadores devido à comprovação de que o negócio seria uma
pirâmide financeira.
Apesar da decisão do Acre, os
donos da empresa e líderes de rede continuaram a ser investigados pela Polícia
Federal no Espírito, que concluiu parte do inquérito criminal em janeiro. Os
empresários mais 20 pessoas são acusados de cometer crime contra o sistema
financeiro ao fazer da Telexfree um banco clandestino que emitia moeda
eletrônica e a transformava em dinheiro de verdade.
Eles também foram denunciados
por lavagem de dinheiro, por usar laranjas por ocultar bens e por organizar
pirâmide financeira e vender valores mobiliários sem autorização da Comissão de
Valores Mobiliários.
Outro lado O advogado
criminalista Rafael Lima, defesa do dono da Telexfree, e da maioria dos
denunciados, diz que não vai comentar o teor dos diálogos dos empresários
revelados nas denúncias do Ministério Público Federal. Segundo ele, as
conversas são de natureza íntima e deveriam ter sido mantidas em segrego pelo
Judiciário.
“Qual seria o motivo de não se preservar esses
dados sigilosos? As denúncias trazem conversas telemáticas, dados fiscais,
bancários. Para que isso? Como isso pode contribuir com a sociedade. O juiz havia
autorizado a publicação de parte das informações sobre a denúncia. O público já
foi informado sobre o caso”, disse. Para eles, as mensagens foram colocadas no
processo fora do contexto. “São trechos soltos. Uma frase. Seria bem diferente
se fosse colocado dentro de um contexto”.
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