O presidente Michel Temer
convocou para este domingo uma reunião de emergência em Brasília com ministros
e representantes de frigoríficos para tratar o escândalo de produtos
adulterados que pode afetar a imagem do maior exportador de carne do mundo. A
reunião foi convocada "em função dos últimos acontecimentos" e
contará com a presença dos ministros da Agricultura, Blairo Maggi, e da
Indústria e Comércio, Marcos Pereira, disse à AFP uma porta-voz do Palácio do
Planalto.
Depois, Temer receberá
"representantes de frigoríficos", acrescentou. Uma investigação de
dois anos trouxe à tona na sexta-feira um esquema corrupto no qual inspetores
sanitários recebiam subornos para autorizar a produção de alimentos não aptos
para o consumo. Foram emitidas 27 ordens de prisão preventiva e ao menos três
frigoríficos foram fechados na sexta-feira, um dedicado ao sacrifício de
frangos (do grupo multinacional BRF) e dois da empresa local Peccin que
fabricavam mortadelas e salsichas, informou o ministério da Agricultura.
Outros 21 estabelecimentos
estão sob investigação e o ministério da Agricultura afastou de seus cargos 33
funcionários envolvidos no esquema. As autoridades não especificaram em quais
instituições foram constatados os produtos irregulares, mas afirmaram que em
frigoríficos de pequeno porte foi detectado o uso de produtos
"cancerígenos e usados para poder maquiar a característica física", o
odor, disse o delegado Moscardi Grillo em uma coletiva de imprensa em Curitiba,
de onde a operação foi dirigida.
Empresas se defendem as
multinacionais brasileiras atingidas pelo escândalo de carne adulterada
afirmaram neste sábado que a qualidade de seus produtos não está em questão,
enquanto cresce o temor entre a população de encontrar alimentos em mau estado
nas gôndolas dos supermercados. Além da gigante BRF (dona das marcas Sadia e
Perdigão), entre as empresas investigadas figura a JBS, líder mundial no
mercado de carne, dona das marcas Big Frango, Seara Alimentos e Swift, entre
outras.
"No despacho da Justiça
Federal que deflagrou a operação, não há qualquer menção a irregularidades
sanitárias ou à qualidade dos produtos da JBS e de suas marcas", afirmou a
JBS em um comunicado que ocupava uma página inteira no jornal O Globo. A
televisão continuava mostrando neste sábado o famoso ator americano Robert de
Niro em uma publicidade de presunto "gourmet" da marca Seara,
propriedade da JBS. No anúncio, De Niro aparece na província de Parma
degustando pedaços de presunto com "autêntico sabor italiano",
segundo uma de suas falas no comercial.
Em outro espaço contratado em
uma página completa nos jornais, o grupo BRF "assegura a qualidade e a
segurança de seus produtos e garante que não há nenhum risco para seus
consumidores". Em uma nota divulgada neste sábado à tarde, a BRF reafirmou
que "nunca comercializou carne estragada e nunca foi acusada disso",
insistindo em que a informação se refere a outras empresas. Para a professora
Silvia Farias, que faz suas compras em um supermercado do Rio de Janeiro, as
informações de que alguns frigoríficos poderiam ter adulterado o frango com
papelão são preocupantes.
"Vamos ao supermercado,
compramos carne para que nossa família consuma e o que esperamos? Que esteja em
bom estado, nunca ia imaginar que a carne poderia estar misturada com
papelão", disse à AFP. Preocupação com exportações Michel Temer ligou na
tarde deste sábado para seu homólogo americano, Donald Trump, mas eles não
conversaram sobre o escândalo da carne, segundo se infere de uma nota divulgada
pela presidência brasileira à noite.
O texto só menciona assuntos
como reformas econômicas e comércio bilateral, assim como o
"interesse" manifestado por Trump de que Temer o visite. O Brasil
começou a exportar carne bovina 'in natura' para os Estados Unidos no ano
passado. O Brasil é o primeiro exportador mundial de carne bovina e avícola,
com presença em ao menos 150 países. O impacto deste caso no exterior preocupa
as autoridades brasileiras, num momento em que buscam acelerar um acordo de
livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia. Eumar Novacki,
secretário-executivo do Ministério da Agricultura, admitiu que existe receio de
que mercados se fechem, mas afirmou que as irregularidades detectadas
constituem um "fato isolado" dentro do "robusto" sistema de
vigilância sanitária brasileiro.
"Não se pode colocar em
xeque o sistema inteiro pela conduta de uma minoria", alegou Novakci,
afirmando que todas as exportações brasileiras são fiscalizadas também ao
chegar a outros países, razão pela qual descarta que qualquer produto
adulterado chegue a ser distribuído no exterior.
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