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sexta-feira, 14 de abril de 2023

ESCOLA + VIOLÊNCIA = SOCIEDADE: O difícil desafio da convivência

 

Estava um pouco resistente em escrever sobre o assunto que envolve os atentados nas escolas. Ainda abalado com os últimos acontecimentos (assassinado de uma professora de 71 anos por um aluno de 13 em São Paulo e de 04 crianças em uma creche em Blumenau em Santa Catarina). Entretanto, a pedido da editora do Jornal da ACE – VGP aceitei o desafio. Como o tema provocou em todos nós sensações e sentimentos diversos, dentre eles revolta, medo, indignação, tristeza e impotência, procurei fazer uma reflexão pessoal a partir do meu cotidiano e de alguns estudos sobre a problemática em questão. Para quem ainda não me conhece, apresento-me para que compreendam de qual lugar estou escrevendo: sou professor da Educação Básica desde 1998, diretor de escola pública desde 2009 e professor universitário desde 2008 (atuando nos cursos de pedagogia, psicopedagogia e neuropsicopedagogia). Portanto, estou atuando como educador há 25 anos, tendo exercido várias funções. 

Posto isso, vamos à análise. A escola é o reflexo da sociedade. Sabemos que a violência não é uma prerrogativa das ESCOLAS, mas da SOCIEDADE que, cada vez mais polarizada, é violenta e intolerante. A cultura armamentista, a polarização do nós contra eles e do princípio maniqueísta do Bem contra o Mal, bem como as crises sociais instauradas pela PANDEMIA da COVID-19 contribuíram significativamente para o aumento dos atos de violência, intolerância e bullying nas escolas. O que a mídia divulga é, contudo, apenas a ponta o iceberg. Nós educadores convivemos diariamente com tudo isso há anos e, apesar de muitos apelos, quase ninguém nos ouve, acham que reclamamos demais. Agora, devido às recentes tragédias de repercussão nacional, o que infelizmente não foi isolado, surge uma onda de especulações sobre a tendência de aumento de atentados deste tipo associados a diversos supostos tipos de motivação dos crimes. Segundo o site G1[2], “subiu para 24 o número de ataques violentos a escolas do Brasil desde 2002, conforme aponta um estudo da  Unicamp, foi contabilizado ao menos 23 casos até março deste ano. O mais recente aconteceu nesta terça-feira (5) em uma creche em Blumenau, Santa Catarina”. 

É urgente, pois, que a sociedade pare de se preocupar com questões irrelevantes ou comportamentais (banheiros unissex, escola sem partidos, linguagens neutras, dentre outras...) e foque no essencial: elaboração de políticas públicas de governo e não de partidos. É necessária a criação de mecanismos que garantam efetivamente a participação da família no acompanhamento da vida escolar dos filhos e sejam responsabilizadas pelo não cumprimento das medidas garantidas legalmente. De acordo com a Constituição Federal de 1988, artigo 205, a educação, direito de todos é DEVER DO ESTADO E DA FAMÍLIA, devendo ser promovida e incentivada com a colaboração da sociedade. Conforme aponta a Constituição, é um dever de todos, mas o que observamos nas escolas é uma negligência de muitas famílias. Algumas, inclusive, querem transferir todas suas responsabilidades para a escola. 

Não estou aqui, com esse argumento, colocando a culpa na família, mas chamando a atenção para a sua responsabilidade na parte que lhe cabe na educação das crianças de acordo com a legislação. Quando a escola convoca os responsáveis para resolver questões da vida escolar dos alunos, ora por indisciplina, vandalismo ou por questões de aprendizagem, muitos alegam não ter tempo. No entanto, quando o filho reclama que algum profissional da educação chamou sua atenção por algum comportamento inadequado de modo mais incisivo alegam que o filho foi constrangido ou que falaram alto com ele. Neste momento, eles arrumam tempo e vêm “brigar” com a equipe escolar, reforçando o comportamento inadequado do filho, isso quando não há denúncia da escola antes do apuramento dos fatos. Para elucidar, relato três episódios que acompanhei e que evidenciam meu argumento: 

1.      Aluno (15 anos) foge da escola. Notificamos os responsáveis. A mãe chega já alterada alegando que o filho saiu porque o portão estava aberto. Informarmos que estávamos recebendo merenda escolar e ele aproveitou a oportunidade e fugiu. Ao invés de corrigir o filho, apontou o “erro” da escola; 

2.      Pai chega nervoso, acusando um professor de ter agredido o filho. Acolhemos a acusação e informamos que iríamos apurar e retornaríamos. Após a apuração, não foi constatado nenhum ato de violência por parte do professor. Pelo contrário, as câmeras mostraram o professor circulando por toda a sala de informática, conferindo os computadores dos alunos (era dia da Prova Paulista). A gravação mostrou que o diretor e a vice-diretora entraram na sala para verificar a conexão da internet, nem o aluno em questão, nem os colegas relataram episódios de violência. O pai foi comunicado para comparecer na escola para o retorno da apuração, mas até hoje não compareceu. Agora eu pergunto: se não tivéssemos as câmeras dentro da sala de aula? Seria a palavra de um adolescente de 13 anos contra a do professor. Adivinhe quem levaria a culpa? Será que as autoridades e a mídia viriam perguntar nossa versão? 

3.      Aluno de 15 anos leva uma arma para escola na mesma semana do ataque que matou a professora em São Paulo. Na sala da direção, o aluno entrega a arma (simulacro) que segundo ele trouxe para “brincar”. Recolhemos a arma, acionamos o protocolo de segurança e a família. A mãe alega que deram de presente a arma para o filho, pois ele, há mais de 05 anos, estava pedindo uma arma de brinquedo. 

Perceberam a gravidade do problema? A sociedade está doente. As famílias não têm autoridade com os filhos. Têm dificuldade de dizer NÃO para eles. Erroneamente, querem dar aos filhos o que alegam que não tiveram na infância e, com essas atitudes, as famílias não conseguem impor limites, fazendo com que as crianças e jovens cresçam com dificuldades de seguir regras básicas de convivência em ambientes coletivos exteriores à família. 

Neste sentido, admite-se que educar pressupõe a coragem de dizer NÃO. Educar é um ato ritualístico, com normas claras para todos os envolvidos. Para a maioria das crianças, é na escola que elas têm o contato com as REGRAS e com os limites do que podem e do que não podem fazer. Infelizmente, é preciso elucidar que estamos criando uma geração de “mimados”, “frustrados” e “intolerantes”. Não sabem esperar a vez, nem na fila do refeitório, querem tudo para ontem. Precisamos, enquanto ainda há tempo resgatar alguns procedimentos de convivência harmônica em sociedade, reforçar a defesa pelos protocolos da boa educação, como pedir licença, por favor e agradecer.  

Partindo das observações, das vivências e das leituras, aponto três dicas para os pais acompanharem e monitorarem os comportamentos dos filhos. Pais, não tenham medo de ser exigentes e “chatos”. Os pais não necessariamente precisam ser “legais”. Precisam ser pais, exercer sua autoridade com responsabilidade, discernimento e coragem. Lembrem-se de: 

1.      REVISTAR mochilas e quartos. Os quartos não são propriedade privada dos filhos onde os pais não podem entrar. Não só podem, como devem e, de vez enquanto, inspecionar; 

2.      ACOMPANHAR e monitorar o acesso das redes sociais dos filhos – ligar o alerta com o excesso de tempo conectados ou com muito tempo no quarto fechado. O acompanhamento deve ser feito com muito diálogo, respeito e orientação, levando em conta a idade dos filhos (determine um tempo). Hoje existem, inclusive, aplicativos de monitoramento; 

3.      Fiquem atento a qualquer mudança de COMPORTAMENTO ou de HUMOR do seu filho. Caso perceba que não consegue lidar com a situação, peça ajuda, de preferência para especialistas em saúde mental. Não minimize ou subestime. Lembre-se do ditado popular “prevenir é melhor do que remediar”. 

Enfim, o assunto é muito complexo, sensível e necessário. Não dá mais para fingirmos que está tudo bem. Não está! Precisamos juntos buscarmos soluções coletivas e colaborativas. Um dos caminhos que considero importante é a PARCERIA de todos em prol de uma CULTURA DE PAZ que valoriza e respeita as diferenças, pois sabemos que o “sucesso escolar é o resultado da parceria entre família e escola em uma atitude de complementariedade e responsabilidade. Precisamos superar essa ideia equivocada e procurar culpados, mesmo porque não há culpados, mas responsáveis” (SENA, 2022, p. 37)[3]. 

[1] Mestre em Educação – PUC/SP. Especialista em Gestão – USP; MBA em Gestão Empreendedora – UFF. Diretor de Escola Estadual. Professor universitário. Escritor, Coach e Palestrante.  Insta: @cezar.sena./cezarsena

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