Os jovens na faixa etária dos 15 aos 24 anos concentram a maioria dos casos de aids notificados este ano em Sorocaba, segundo números divulgados pelo Centro de Testagem e Acolhimento da Secretaria de Saúde do Município (CTA). Conforme o setor, das 177 notificações da doença emitidas em 2016, 90, mais da metade portanto, estão concentradas junto ao público que tem de 15 a 19 (18 ocorrências), e de 20 a 29 anos (72). Os 87 restantes referem-se a pessoas com mais de 30 anos. Ainda de acordo com o CTA, a cidade tem cerca de 2,1 mil casos notificados da doença.
No ano passado, foram contabilizados 172 registros da síndrome. Já o total de óbitos apurados na cidade no mesmo período (o mapeamento deste ano ainda não foi concluído) chegou à marca de 148. "A aids rejuvenesceu", disse a presidente do Grupo de Prevenção à Educação contra a Aids em Sorocaba (Gepaso), Maria Lucilla Magno.
O resultado do levantamento tornado público na véspera do Dia Mundial de Luta contra a Aids, comemorado hoje, assume gravidade maior quando se sabe, de acordo com especialistas, que a camada da população que contraiu o vírus, mesmo ciente dos riscos, não usou de práticas preventivas.
A juventude, diz Lucilla Magno, tem arriscado e se mantém acomodada numa zona de conforto. "Eles acreditam, e estão enganados é claro, que não sofrerão as consequências da doença. Acreditam que somente os outros estão expostos e descartam o uso de preservativos", comentou a presidente do Gepaso.
De acordo com estudo do Ministério da Saúde existe um contraste entre o conhecimento e a prática quando o assunto é prevenção da aids. Uma pesquisa feita junto a 12 mil pessoas mostrou que 94% dos consultados sabem que a camisinha é a melhor forma de prevenir doenças sexualmente transmissíveis, como a aids. Mesmo assim, 45% dos que responderam ao questionário assumiram não terem usado preservativos nas relações sexuais casuais mantidas nos últimos 12 meses. Por ano, 12 mil brasileiros morrem por consequências da doença.
Lucilla Magno destaca que os mais jovens não testemunharam os efeitos devastadores da doença em personalidades, ou em pessoas próximas. "Estamos falando de uma geração que iniciou a vida sexual sabendo que existe a possibilidade de tratamento, que, inclusive, é fornecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), gratuitamente. Porém, estes jovens desconhecem os efeitos adversos da terapia antirretroviral. O fundamental mesmo é praticar a prevenção".
Ações
As políticas públicas de enfrentamento do quadro em Sorocaba envolvem, conforme divulgado pelo Serviço de Comunicação do Paço (Seco), a ampliação de testes rápidos nas unidades básicas de saúde, o aumento da distribuição de insumos de prevenção como, preservativos femininos, masculinos e gel lubrificante, parcerias com ONG"s para a realização de testes rápidos de fluídos oral, ampla distribuição de materiais educativos para as unidades básicas de saúde e empresas privadas, atendimento especializado e diferenciado para PVHA (pessoas vivendo com HIV/Aids) na clínica SAME, vigilância especializada para gestantes HIV, e distribuição de insumos de prevenção para população vulnerável (profissionais do sexo).
A presidente do Gepaso, Maria Lucilla Magno, disse que a ONG deverá promover maior divulgação sobre o tema em campanha prevista para o Carnaval de 2017. "Temos a academia para atendimento dos doentes que é mantida por meio de convênio com a União e recebemos preservativos que distribuímos como forma de prevenir. Vamos, no ano que vem, mesmo enfrentando a resistência da onda conservadora que existe no Município, trabalhar a conscientização e reforçar o alerta de que a prevenção ainda é a única alternativa para não adquirir a doença".
Portadores de HIV lamentam descuido com prevenção
Sob a condição de permanecerem no anonimato e não terem as imagens divulgadas, dois jovens, de 19 e 21 anos, que contraíram o vírus HIV, concordaram em falar à reportagem do Cruzeiro do Sul. Os relatos confirmaram a tendência de concentração dos casos da doença junto a essa faixa etária na cidade.
Os entrevistados foram contaminados porque não usaram preservativos nas relações sexuais que mantiveram. Disseram que assumiram o risco por entenderem que hoje o tratamento da síndrome é mais eficaz e os efeitos crônicos do contágio seriam menos piores. "A gente não mede consequência na hora. Como se fala bastante dos bons resultados do coquetel e de outras drogas, pensei que não teria perigo", afirmou um deles.
O outro se mostrou arrependido. "Se pudesse, voltaria atrás. Não é certo passar por esse problema. Eu fui, sim, irresponsável e agora vou fazer o tratamento para não ficar pior. Agi por impulso, sabia que a camisinha precisa ser usada, mas na hora não agi como deveria. Só espero que outras pessoas não repitam o meu exemplo. Posso garantir que não é nada bom".
Os consultados também não dispunham de referências sobre os efeitos da Aids. "Eu até cheguei a ver fotos de gente famosa, que emagreceu e apresentava uma aparência assustadora. Mas isso foi há tanto tempo, antes de eu nascer, e hoje já não é mais assim. Pena que só agora a ficha caiu", acrescentou o jovem.
"Eu ouvi, e infelizmente acreditei, conhecidos falarem que Aids não é mais uma sentença de morte, que não faz sentido usar preservativo e não aproveitar. Faltou pouco para eu recusar o conselho, se posso chamar de conselho, mas fui fraco. Se o perigo existe, hoje eu sei, o certo é correr dele, é evitar".
Os personagens desta matéria reforçaram o apelo àqueles que têm suas idades para que tomem cuidado. "Não sejam loucos de sair por aí sem fazer a prevenção. A Aids mata, sim. Pode até demorar, pode até não gerar tanto sofrimento como já aconteceu, mas não vale a pena, é loucura, correr o risco. Que todos possam entender isso".
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