Aparecer

Aparecer

Siga-nos no instagram

quarta-feira, 8 de março de 2017

Líder de nova facção é a terceira mulher a entrar no Baralho do Crime


Resultado de imagem para personality development-hindi icon

A compra de drogas para uso próprio terminou em morte para dois amigos, em fevereiro, em Vitória da Conquista (BA). Julgados como “soldados do tráfico” numa área inimiga, os jovens foram assassinados com mais de dez tiros de pistola e revólveres.

A atuação é característica de integrantes da facção BDN (Bonde do Neguinho), liderada por Jasiane Silva Teixeira, 28, a “dona Maria”, que tem espalhado o terror na cidade de 346 mil habitantes –a terceira maior da Bahia. Segundo a polícia, a BDN é ligada ao PCC.

O “Neguinho” da sigla BDN se refere a Juarez Vicente de Moraes, principal executor de homicídios e gerente do tráfico de drogas.

Segundo a Polícia Civil, os garotos estavam de bicicleta no Vila Sul, conjunto habitacional do Minha Casa, Minha Vida, situado no bairro Campinhos (periferia da cidade), perguntando onde achar maconha.

“Pelo que apuramos, os jovens não tinham envolvimento com o tráfico, eram usuários. Mas, ao serem confundidos com integrantes de outra facção, foram mortos”, afirmou o delegado Hudson Santana, da Delegacia de Homicídios.

Até o final de semana, a polícia havia conseguido identificar apenas uma das vítimas: Igor Carvalho Silva, 18.

As mortes dos adolescentes foram as mais recentes relacionadas ao tráfico na cidade, onde já ocorreram neste ano 36 homicídios, a maioria envolvendo vendedores e usuários de drogas. No ano passado, houve ao todo mais de 200 assassinatos na cidade. Segundo o Ministério Público, mais de 90% deles estão associados a conflitos envolvendo o tráfico na região.

Montagem com fotos de “dona Maria” e seu comparsa Juarez, o “Neguinho”, apontado como homicida e gerente da facção BDN

A procura pela “Dama de Copas”.  O assassinato é um destino possível de quem se atreve a contrariar os interesses de “dona Maria”, dentro ou fora do território dominado por sua
facção.

Branca e de olhos claros, “dona Maria” tem ascendido recente no mundo do crime no interior da Bahia. Mas estar em posição de liderança trouxe para ela mais riscos.

Em fevereiro, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) da Bahia usou a carta de “Dama de Copas” para inseri-la no “Baralho do Crime”, ferramenta para ajudar na captura de criminosos foragidos. O “Baralho” foi atualizado 110 vezes desde sua criação, em 2011. A exibição dos rostos desses criminosos já contribuiu para 68 prisões, segundo a secretaria.

Ter entrado para o grupo dos procurados também parece ter sido motivo de orgulho para ela, pois já se vê em bairros dominados pelo BDN pichações com a inscrição “Salve copa”.

Na Justiça Criminal, “dona Maria” é ré em seis processos: por tráfico e associação para o tráfico (quatro ações) e por homicídio qualificado (uma ação em Vitória da Conquista e outra em Jequié, cidade para onde vão os condenados a regime fechado na região sudoeste da Bahia).

“Mas temos informações seguras de que é ela quem manda cometer os homicídios”, disse o delegado Hudson Santana.

Um rival “discreto” do outro lado da rodovia

Um ‘salve copa’ pichado na parede faz referência à ‘dona Maria’, a ‘Dama
de Copas’
“Dona Maria” atua principalmente no lado oeste de Vitória da Conquista. Do lado oposto, separado pela rodovia BR-116, atua seu principal rival: Wilians de Souza Filho, o “Nem Bomba”.

Segundo a polícia, a facção de “dona Maria” tenta há anos tirar “Nem Bomba” de cena, realizando constantes invasões em seu território e assassinando quem trabalha com ele.

“‘Nem Bomba’ não tem entrado na área dela, mais por estilo de atuação. Ele tem o território definido e quer apenas manter o poder. Possui atuação bem mais discreta. Se for atrás dele, ele revida. Já esteve preso, mas teve o mandado revogado pela Justiça. Sabemos que ele comanda o tráfico, mas atualmente não há nenhum mandado de prisão em aberto contra ele”, afirmou o delegado Santana.

Namoro com traficante a levou à prisão

Nascida e criada na periferia local, no bairro de Jardim Valéria, a traficante se envolveu com o submundo de drogas ainda jovem, quando começou a namorar o então maior traficante da cidade, Bruno de Jesus Camilo, o “Pezão”, primo em primeiro grau de “dona Maria” e líder do Bonde do Pezão.

A líder do BDN foi presa pela primeira vez em 2008 por tráfico, associação para o tráfico e porte de arma. Solta meses depois, passou a atuar sob as ordens de Pezão e montou sua base em Jequié. Foi lá que ocorreu, em 2010, um dos homicídios sobre o qual ela responde na Justiça.

“Pezão” mandou matar um agente penitenciário que não queria facilitar a entrada de drogas e armas na cadeia onde ele estava preso. Outros crimes atribuídos diretamente a “dona Maria” são um duplo e um triplo homicídio contra integrantes da facção de “Nem Bomba”. Foram anos juntos, fugindo da polícia e promovendo festas regadas a maconha e cocaína, até que “Pezão” acabou assassinado em 2014, numa troca de tiros com a polícia em Porto Seguro, no extremo sul do Estado.

Apesar de estar com “Pezão” naquele dia, “dona Maria” conseguiu escapar do cerco com ajuda do companheiro.

Sem piedade com inimigos ou crianças

Muro de bairro dominado pelo BDN faz referência a ataque a grupos rivais, chamados de “os alemão” na gíria do crime

Para assumir o comando do tráfico no lugar do namorado morto, “dona Maria” se aliou a Paulo TG, filiado ao Bonde do Maluco, que atua na Bahia como braço do PCC, de acordo com a SSP-BA.


Ela também se uniu a grupos menores de traficantes ao fazer um acordo para fornecer drogas, armas e disponibilizar advogados 24 horas por dia. Em troca, a maior parte do lucro com a venda de drogas seria dela.

Agora como líder criminosa, “dona Maria” tem atuado com mais impiedade que “Pezão”, na avaliação da polícia, e assassinado rivais em qualquer local e sem se preocupar com quem estiver por perto, como crianças, ainda segundo a PM.

Em novembro passado, por exemplo, ordenou que seu bando matasse todo mundo que estivesse em um bar que deu preferência a vender drogas da facção de “Nem Bomba”. Havia mais de 20 pessoas na festa.

A polícia, no entanto, acabou evitando a chacina ao perceber a movimentação no local e seguir os traficantes. Quatro deles foram mortos em troca de tiros com os policiais ao chegarem à festa.

A prima de um dos traficantes mortos foi ao local do crime para passar informações ao BDN e também foi presa. Em depoimento, a mulher disse que o plano era “matar geral”.

Pichação em casa de conjunto habitacional do Minha Casa, Minha Vida exalta o PCC

“Não quero criar meu filho num local desses”

De acordo com a polícia, apesar de atuar localmente, o BDN já se expandiu a ponto de se tornar integrante da rede do PCC.

A facção se espalhou por vários bairros de Vitória da Conquista, principalmente onde foram criados conjuntos habitacionais populares do Minha Casa, Minha Vida.

Nesses lugares, é comum haver expulsão de moradores por parte de traficantes. Ao UOL, moradores disseram que, para permanecer “em paz”, é preciso ser passivo com os traficantes e até alertá-los da presença da polícia.

“Preferi sair e abandonar minha casa, porque conviver da forma que eles querem é sempre um risco. Muita gente continua lá por falta de opção, mas querem mais é poder ir para um local que não esteja sob o domínio do tráfico. Não quero criar meu filho num local desses”, afirmou Vanderleia Pereira de Oliveira, 37, que morava no conjunto de Miro Cairo.

O que diz a polícia

Em nota, a Polícia Civil afirma que “nos últimos quatro meses, Vitória da Conquista acumula redução de 20% nos homicídios em relação ao mesmo período dos anos anteriores”.

“No último bimestre de 2016, a redução foi de 15% em relação a 2015. No primeiro bimestre de 2017, a redução foi de 25% em relação a 2016”, afirma a nota, sem citar números absolutos.

“O resultado é fruto do combate constante e conjunto da Polícia Civil e Polícia Militar ao tráfico de drogas, com apoio do Ministério Público e Judiciário. No ano de 2016, a Polícia Civil deflagrou 164 operações policiais que resultaram na prisão de 201 pessoas, apreensão de 47 armas de fogo e 2.144 quilos de drogas.”

A nota destaca que “somente o Núcleo de Tóxicos e Entorpecentes, criado em fevereiro de 2016 e efetivado como delegacia em dezembro do mesmo ano, deflagrou 48 operações, prendeu 64 pessoas, apreendeu 25 armas de fogo e 624 quilos de drogas”.

Somando-se as ações realizadas pela PM e pela PRF (Polícia Rodoviária Federal), foram apreendidas 12,5 toneladas de drogas. Como comparação, em 2015, diz a nota, “foram apreendidos 461 kg”.

Vitória da Conquista, contudo, tem aparecido com destaque em pesquisas sobre violência. O Atlas da Violência 2016, produzido pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) com dados de 2014 do Ministério da Saúde, aponta que a taxa de homicídios por 100 mil habitantes na cidade está quase quatro vezes maior que o aceitável pela ONU (Organização das Nações Unidas): 37,2, acima dos 10 assassinatos a cada 100 mil habitantes delimitado pela entidade.


O município baiano é também o 36º onde mais se mata no mundo, aponta o estudo da ONG mexicana Seguridade, Justiça e Paz, cujo estudo abrangeu apenas cidades com população acima de 300 mil habitantes. De acordo com a organização, ocorreram em 2015 em Vitória da Conquista 132 homicídios, tendo a cidade ficado com uma taxa de 38,46 mortes a cada 100 mil habitantes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Rua principal de Jucuruçu - Bahia, 3 de março de 2024.

Jucuruçu - Bahia. Pedaço bom do Brasil.