Na madrugada desta
terça-feira, a rede municipal de saúde registrou cinco tentativas de suicídio
entre adolescentes entre 13 e 17 anos em Curitiba. Os dados são da Secretaria
Municipal de Saúde de Curitiba, que informou ainda que os cinco jovens foram
atendidos e encaminhados para acompanhamento no Centro de Atenção Psicossocial
(Caps). Segunda a pasta, em todos os casos havia sinais de automutilação e
ingestão de medicamentos.
A Secretaria de Saúde alerta
pais e responsáveis por crianças e adolescentes, além dos profissionais da
educação e da saúde em relação ao “jogo” Baleia Azul, que propõe 50 desafios
aos participantes e sugere o suicídio como última etapa. Ainda não há confirmação se os casos
registrados nesta madrugada têm relação com o jogo macabro. A prefeitura disse
que os casos serão investigados. Além disso, a administração municipal disse
que vai desenvolver atividades de prevenção ao suicídio nas escolas com
estudantes adolescentes, faixa etária alvo do jogo. A ação envolve as
secretarias municipal e estadual de Educação.
O que é? No "jogo"
Baleia Azul (blue whale, em inglês), os adolescentes relatam receber mensagens
em redes sociais com tarefas a serem cumpridas. Nas conversas, um grupo de
organizadores, chamados "curadores", propõe 50 desafios macabros aos
adolescentes, como fazer fotos assistindo a filmes de terror, automutilar-se
desenhando baleias com instrumentos afiados no corpo e fingir estar doente. O
Baleia Azul começou como “fake news” (notícia falsa) divulgada por um veículo
de comunicação estatal da Rússia e se espalhou a partir de 2015.
Mesmo sendo falsa, a notícia
gerou um contágio, principalmente entre os jovens. De acordo com especialistas,
o jogo não existia, mas com a grande repercussão da notícia, pode ter passado a
existir. Veja também: Jogo macabro da Rússia faz vítima no Brasil “Orientamos
que pais e responsáveis conversem com os adolescentes e fiquem atentos a sinais
de isolamento, perda de vínculo familiar, comportamento agressivo e quadros de
automutilação”, diz o secretário municipal da Saúde de Curitiba, João Carlos
Baracho. De acordo com o Baracho, os postos de saúde são a porta de entrada no
sistema para aquelas famílias que precisam de ajuda. Caso seja necessário, o
posto pode direcionar para atendimento de saúde mental em Caps ou outro serviço
especializado, de acordo com a gravidade do caso.
Seriado No mesmo sentido, a
Secretaria Municipal da Saúde faz um alerta em relação ao seriado ‘13 Reasons
Why’ (em portugês, 13 razões para, ou 13 porquês). Os episódios, exibidos pela
plataforma de streamming Netflix, contam a história de uma garota que deixa
fitas cassetes explicando as razões que a levaram a cometer suicídio. De acordo
com a Associação Paranaense de Psiquiatria (Appsiq), obras de ficção que
simbolizam a vida real podem contribuir para fomentar discussões de temas
importantes.
A entidade manifestou satisfação
em constatar que o seriado que trata de bullying, depressão e suicídio entre
adolescentes tenha provocado alta de 170% nos acessos ao Centro de Valorização
da Vida (CVV), que há 55 anos atua na prevenção do suicídio no Brasil. Segundo
a Appsiq, porém, “a série ‘13 Reasons Why’ peca por não abordar a questão do
adoecimento mental da personagem, não provocar diálogos sobre como o desfecho
dela poderia ser evitado e, principalmente, por dar a impressão de que buscar
ajuda é inefetivo.” A Appsiq critica também a “glamourização” do suicídio, a
utilização do autoextermínio como instrumento de vingança e o fato de atrelar a
ideia de suicídio à culpabilização.
A entidade alerta, ainda, em
relação ao efeito Werther – termo científico pelo qual a publicidade de um caso
notável serve de estímulo para novas ocorrências, contribuindo para a difusão
do método, apologia ou idealização do ato. De acordo com a coordenadora de
Saúde Mental da Secretaria Municipal da Saúde, Flávia Adachi, os pais e
responsáveis não precisam proibir o adolescente de ver a série, mas devem
preferencialmente assistir junto e conversar sobre o assunto. “Pode perguntar
ao filho se ele conhece alguém que já passou por aquelas situações ou se ele
efetivamente já passou por aquilo, tentando deixar um canal aberto franco de
diálogo”, aconselha.
A psicóloga Maria Cristina
Barreto, que trabalha na Saúde Mental da secretaria, na área técnica da
infância e adolescência, explica que essa fase da vida é de grande
vulnerabilidade. “O jogo Baleia Azul tem o componente do ‘desafio’. Os
adolescentes gostam de desafio, romper limites, desafiar autoridade”, conta
ela. “Já a série afeta mais o adolescente que vivencia alguma situação de maior
sofrimento, tornando-o suscetível a influências que podem colocá-lo em situação
de risco. Então, precisamos ficar atentos a todos os perfis”, diz.
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