Outro dia, navegando pela internet, deparei-me com imagens lindas de um rio desembocando no mar. A informação dizia tratar-se de uma paisagem deslumbrante. De fato, meus olhos estavam encantados com o que viram. Serpenteando entre a cidade de Prado, na Bahia, e a praia, o Rio Jucuruçu se mostra margeado de matas e manguezais praticamente intocados, propiciando passeios inesquecíveis. Estava tudo escrito ali na home page do Guia Pradinho, que oferece os melhores atrativos turísticos daquela cidade baiana, tudo em harmonia com o meio ambiente.
Interrompi a navegação que fazia na internet e comecei a refletir sobre o que acabara de ver. Caramba! Aquela imagem mostrava a grande metamorfose operada no mesmo rio que passa bem aqui, nos fundos de minha casa, recebendo as descargas diárias do meu banheiro e tantos outros banheiros das residências de Dois de Abril, de Palmópolis, de… O mesmo rio que passa a vinte e poucos metros de minha casa é o mesmo que, a 200 quilômetros, propicia entretenimento e gera riqueza.
Permito-me viajar em pensamentos acompanhando a trajetória do Rio Jucuruçu em todos os seus 241 km de extensão, desde a sua nascente até a sua foz. Recordo que não há projeto sobre meio ambiente nas escolas do município de Palmópolis em que se agende uma visita dos nossos alunos ao nascedouro do Jucuruçu. Ele nasce com o nome de Córrego da Prata, a 1.000 m de altitude no município de Felizburgo, Minas Gerais, corre em toda sua extensão do terço superior com o nome de Rio do Prado até se encontrar com o Ribeirão Dois de Abril, aqui na vila de Dois de Abril, e depois segue o caminho da Bahia com o nome de Jucuruçu. O terço superior, da nascente até o encontro com o Ribeirão Dois de Abril, na vila com mesmo nome, é marcado por trechos encachoeirados, como a Cachoeira de Lecy, a Cachoeira dos Queiroz e a Cachoeira das Andorinhas.
Próximo aos fundos de meu quintal há uma pinguela sobre esse majestoso rio (em sua desembocadura), com cerca de 6 metros de extensão, que dá acesso ao campo de futebol da vila. No entanto, neste mesmo local, há pouco mais de vinte anos, já presenciei meninos nus e meninas de calcinhas banhando-se, enquanto pescadores jogavam tarrafas ou armavam suas redes. Lembro que dona Alzira, viúva de seo Esperdião, preferia pescar de anzol, quase todos os dias. Cenas que não se veem mais. O que se vê é a remoção de sua mata ciliar e um intenso assoreamento de seu leito, desde quando começou a ocupação do vale do Jucuruçu por fazendas e áreas urbanas.
Diante de tanta humilhação e ignomínia sofridas em seu percurso, esse rio que passa em minha vida, corre o risco de um dia não conseguir chegar ao mar.
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