Desde o início de seu julgamento, por volta das 11h45 desta segunda-feira (28/11), Elize Matsunaga mostrou-se impassível. Mais próxima do público do que qualquer outro integrante do plenário e sem uma mesa à frente de sua cadeira para protegê-la, ela mantinha as mãos no colo, e sustentava um olhar vago. Raríssimas vezes comunicou-se com seus advogados — quando o fez, foi de forma monossilábica.
No entanto, a mulher que confessou ter assassinado e esquartejado seu marido, Marcos Matsunaga, desabou quando sua ex-babá Amonir Hercília dos Santos afirmou que ela era uma boa mãe e carinhosa com sua filha, Helena. Elize chorou por vários minutos, mas de forma silenciosa e discreta, bem a seu modo, e o lamento quase passou despercebido.
O que não passou sem ser notado foi o primeiro dia do julgamento de Elize — que foi pronunciada por homicídio qualificado por motivo torpe, meio cruel e recurso que dificulte a defesa da vítima (artigo 121, parágrafo 2º, incisos I, III e IV, do Código Penal) e destruição e ocultação de cadáver (artigo 211 do Código Penal). O espaço para o público no Plenário do Fórum Criminal da Barra Funda, em São Paulo, estava completamente lotado. E não faltavam câmeras — proibidas nessa sala — focadas em capturar, ainda que brevemente, a acusada, que está presa desde 2012 na Penitenciária do Tremembé (SP). Devido a atrasos, porém, apenas três das 21 testemunhas foram interrogadas — o que indica que o julgamento deve ir até o fim desta semana.
Uma vez que Elize admitiu os crimes, a disputa é se ela deve ser condenada por homicídio qualificado (objetivo do Ministério Público) ou pela assassinato sob o domínio de violenta emoção (estratégia da defesa que poderia diminuir a pena em até um sexto, conforme o parágrafo 1º do artigo 121 do Código Penal).
Mãe e filha
As babás Mauriceia José Gonçalves dos Santos (principal) e sua filha Amonir (folguista) foram as primeiras depoentes a se apresentar. Arroladas pela assistência da acusação — comandada por Luiz Flávio Borges D’Urso, ex-presidente da seccional de São Paulo da Ordem dos Advogados do Brasil, em nome dos pais da vítima —, elas tiveram prioridade pelo fato de Amonir estar com seu bebê de oito meses.
Fisicamente, Mauriceia e Amonir parecem irmãs. As posturas delas, entretanto, eram diferentes como criminalistas e promotores. Enquanto a filha respondia às perguntas de maneira firme — mesmo quando entrava em contradição com depoimentos anteriores —, com ar ligeiramente agressivo, a mãe ficou ansiosa, com a respiração acelerada, e chegou a chorar em certos momentos.
Após o promotor do caso, José Carlos Cosenzo, perguntar se a babá sabia que Elize, durante uma viagem que fizeram para Chopinzinho (PR), estava conversando com um detetive que havia contratado para descobrir se seu marido estava traindo-a, Mauriceia disse: “Ai, doutor, tô um pouco nervosa”. Imediatamente, o integrante do Ministério Público levou-lhe um copo-d’água. Mas o juiz presidente do Tribunal do Júri, Adílson Paukoski Simoni, da 5ª Vara do Júri de São Paulo, não se sensibilizou com ela.
“Independentemente de a senhora estar nervosa ou não, a senhora tem que falar a verdade. Caso contrário, estará cometendo o crime de falso testemunho. A senhora não está aqui prestando um favor, e sim cumprindo uma obrigação legal”, endureceu o juiz.
Posteriormente, depois de confirmar que o casal, em certo momento, passou a dormir em quartos separados, Mauriceia relatou estar sentindo uma dor no lado esquerdo do peito, a qual atribuiu à sua pressão alta. O julgamento foi interrompido até que ela se recompusesse.
Vale citar que a testemunha só relaxou quando foi interrogada por uma mulher — Roselle Soglio, advogada de Elize. Nessa seção, ela relatou os fatos de forma mais confiante e relaxada.
Serra elétrica
A babá mais velha só aceitou depor se Elize não estivesse no recinto. “A senhora tem medo da Elize?”, perguntou D’Urso. “Eu fiquei meio cismada depois do que aconteceu. Eu fiquei meio assim, porque ela pode ficar com raiva porque eu falei da serra”, justificou.
O artefato, que foi usado para esquartejar Marcos Matsunaga, segundo os investigadores, foi comprado na véspera do crime, contou Mauriceia. De acordo com ela, na volta de Chopinzinho, Elize parou em uma loja de ferramentas e adquiriu uma pequena serra elétrica. O objetivo era usá-la para abrir caixas de vinho, destacou a ré na ocasião.
A ex-funcionária do casal Matsunaga também apontou — respondendo ao advogado de Elize Luciano Santoro — que Elize era uma patroa generosa, uma vez que pagou um tratamento de saúde de sua neta e lhe deu uma viagem ao Recife, e que a acusada lhe confessou que o casamento não ia bem — algo que ela constatou pelas constantes brigas que presenciou.
Amonir, por sua vez, declarou que ganhou um colchão que havia sido periciado — supostamente, o que foi usado enquanto Elize colocava os membros de seu marido em três malas — e que não percebeu alterações quando chegou à casa deles na manhã seguinte ao homicídio. Conforme seu depoimento, a patroa estava calma. No fim da manhã, saiu — para se livrar do corpo, segundo a acusação — e, nesse período, ligou diversas vezes para saber como estava sua filha, narrou a babá folguista. Ela ainda contou que só sentiu que Elize estava triste na semana seguinte.
Investigador particular
Última testemunha do dia, o detetive particular William Coelho disse que, quando foi contratado por Elize, ela já sabia que estava sendo traída por seu marido, mas que queria uma confirmação do adultério. Assim, ela pediu que o profissional filmasse “a cara” da amante.
Elize voltou a chorar ao ouvir o relato de Coelho — algo que também fez no início do julgamento, quando foi lido o resumo do caso.
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