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quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Eike Batista é alvo da Lava Jato sob suspeita de ocultar propina de Cabral


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A Polícia Federal deflagrou na manhã desta quinta-feira (26) a Operação Eficiência, a nova fase da Lava Jato no Rio de Janeiro. O principal alvo é o empresário Eike Batista. Foi emitido contra ele um mandado de prisão preventiva, ou seja, sem data para terminar. Ele é suspeito de ocultar US$ 16,5 milhões de propina do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) no exterior.

O pedido de prisão, contudo, não foi cumprido porque Eike está fora do país. Em entrevista coletiva nesta manhã, o delegado da PF Tácio Muzzi disse que investiga informações de que o empresário teria embarcado para Nova York na terça (24) com um passaporte alemão. Segundo ele, a Interpol já foi acionada para ajudar nas buscas, e a defesa de Eike afirmou que ele irá se apresentar às autoridades em breve.

O advogado Sérgio Bermudes, que defende o empresário nas causas cíveis, afirmou à Folha que Eike está entre Nova York e Miami e viajou aos EUA para cuidar de um processo relacionado ao bloqueio de US$ 63 milhões em bens pela Justiça das Ilhas Cayman. Disse ainda que o cliente viajou outras vezes nos últimos meses e nunca se furtou a se apresentar às autoridades, quando solicitado.

A PF ficou cerca de que quatro horas na residência do empresário no Jardim Botânico, zona sul do Rio, onde também cumpriu mandado de busca e apreensão. Os policiais deixaram a casa por volta das 10h. Nesta fase, a operação investiga crimes de lavagem de dinheiro e ocultação no exterior de cerca de U$ 100 milhões em remessas contínuas desde 2002, afirmou o Ministério Público Federal. De acordo com a PF, boa parte dos valores já foi repatriada.

Segundo os procuradores, a organização criminosa liderada por Cabral movimentou R$ 39,7 milhões entre agosto de 2014 a junho de 2015. "O patrimônio da organização criminosa comandada pelo ex-governador Sérgio Cabral é um oceano ainda não completamente mapeado", afirmou o procurador Leonardo Freitas, coordenador da Lava Jato no Rio, na entrevista. De acordo com os investigadores, nome da operação, Eficiência, é o mesmo de uma conta bancária de Cabral em Nova York.

Ao todo foram expedidos nove mandados de prisão preventiva e quatro de condução coercitiva, além de 27 mandados de busca e apreensão de acordo com notas emitidas pela Polícia Federal e o Ministério Público Federal. Das prisões decretadas nesta fase pelo juiz Marcelo Bretas, da sétima vara federal do Rio, já estão detidos o ex-governador Sérgio Cabral e seus ex-secretários Wilson Carlos e Carlos Miranda. Esse é o terceiro mandado do prisão expedido contra eles.

Até as 11h desta quinta, quatro pessoas haviam sido presas: o advogado Flávio Godinho, vice-presidente de futebol do Flamengo, Thiago Aragão (sócio de Adriana Ancelmo), Álvaro Novis (doleiro) e Sérgio de Castro Oliveira (operador suspeito de abastecer Carlos Miranda). Francisco Assis Neto, outro suspeito de integrar o esquema, ainda não foi localizado. Godinho é acusado de lavar dinheiro no esquema de pagamento de propinas direcionadas à Cabral, com uso de contratos fictícios.

Entre os alvos de condução coercitiva estão a ex-mulher de Cabral, Susana Cabral, o irmão do ex-governador, Maurício Cabral, Eduardo Plass, ex-gestor TAG Bank e da Opus, e de Luiz Arthur Andrade Correia, que já fora preso na 34ª fase da Lava Jato, em setembro. A Folha ainda não conseguiu contato com a defesa dos demais alvos.

DEPOIMENTO ESPONTÂNEO

Eike já havia sido citado na Operação Calicute -primeira etapa da Lava Jato no Rio, que prendeu o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ)- por ter repassado R$ 1 milhão ao escritório de advocacia da ex-primeira-dama do Rio Adriana Ancelmo. Ela está presa desde dezembro, sob acusação de usar a banca para movimentar a propina arrecadada pela quadrilha. Em depoimento espontâneo aos procuradores, Eike disse que esse pagamento se referia a um investimento orientado pela Caixa Econômica Federal.

De acordo com a força-tarefa da Lava Jato no Rio, a Caixa negou ter sugerido a operação financeira. O empresário manteve relação próxima com Cabral e sua família, tendo financiado políticas públicas no Rio –como a despoluição da Lagoa Rodrigo de Freitas e as Unidades de Polícia Pacificadora–, bem como momentos de lazer do casal. O ex-governador e a mulher viajaram 13 vezes em jatos do empresário, tanto a turismo e para compromissos oficiais, como revelou a Folha no dia 8.

Em 2016, o empresário também depôs espontaneamente à força tarefa da Lava Jato em Curitiba -seu testemunho ao Ministério Público Federal resultou no pedido de prisão de Guido Mantega. Eike afirmou que ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, pediu-lhe um pagamento de R$ 5 milhões para o PT, em novembro de 2012.


Na época, Mantega era presidente do Conselho de Administração da Petrobras. Sob orientação do partido, ele teria firmado um contrato fraudulento com uma empresa do casal de publicitários João Santana e Mônica Moura, para realizar as transferências. Os pagamentos foram feitos no exterior, num total de US$ 2,35 milhões.

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