A Polícia Federal deflagrou
na manhã desta quinta-feira (26) a Operação Eficiência, a nova fase da Lava
Jato no Rio de Janeiro. O principal alvo é o empresário Eike Batista. Foi
emitido contra ele um mandado de prisão preventiva, ou seja, sem data para
terminar. Ele é suspeito de ocultar US$ 16,5 milhões de propina do ex-governador
Sérgio Cabral (PMDB) no exterior.
O pedido de prisão, contudo,
não foi cumprido porque Eike está fora do país. Em entrevista coletiva nesta
manhã, o delegado da PF Tácio Muzzi disse que investiga informações de que o
empresário teria embarcado para Nova York na terça (24) com um passaporte
alemão. Segundo ele, a Interpol já foi acionada para ajudar nas buscas, e a
defesa de Eike afirmou que ele irá se apresentar às autoridades em breve.
O advogado Sérgio Bermudes,
que defende o empresário nas causas cíveis, afirmou à Folha que Eike está entre
Nova York e Miami e viajou aos EUA para cuidar de um processo relacionado ao
bloqueio de US$ 63 milhões em bens pela Justiça das Ilhas Cayman. Disse ainda
que o cliente viajou outras vezes nos últimos meses e nunca se furtou a se
apresentar às autoridades, quando solicitado.
A PF ficou cerca de que
quatro horas na residência do empresário no Jardim Botânico, zona sul do Rio,
onde também cumpriu mandado de busca e apreensão. Os policiais deixaram a casa
por volta das 10h. Nesta fase, a operação investiga crimes de lavagem de
dinheiro e ocultação no exterior de cerca de U$ 100 milhões em remessas
contínuas desde 2002, afirmou o Ministério Público Federal. De acordo com a PF,
boa parte dos valores já foi repatriada.
Segundo os procuradores, a
organização criminosa liderada por Cabral movimentou R$ 39,7 milhões entre
agosto de 2014 a junho de 2015. "O patrimônio da organização criminosa
comandada pelo ex-governador Sérgio Cabral é um oceano ainda não completamente
mapeado", afirmou o procurador Leonardo Freitas, coordenador da Lava Jato
no Rio, na entrevista. De acordo com os investigadores, nome da operação,
Eficiência, é o mesmo de uma conta bancária de Cabral em Nova York.
Ao todo foram expedidos nove
mandados de prisão preventiva e quatro de condução coercitiva, além de 27
mandados de busca e apreensão de acordo com notas emitidas pela Polícia Federal
e o Ministério Público Federal. Das prisões decretadas nesta fase pelo juiz
Marcelo Bretas, da sétima vara federal do Rio, já estão detidos o ex-governador
Sérgio Cabral e seus ex-secretários Wilson Carlos e Carlos Miranda. Esse é o
terceiro mandado do prisão expedido contra eles.
Até as 11h desta quinta,
quatro pessoas haviam sido presas: o advogado Flávio Godinho, vice-presidente
de futebol do Flamengo, Thiago Aragão (sócio de Adriana Ancelmo), Álvaro Novis
(doleiro) e Sérgio de Castro Oliveira (operador suspeito de abastecer Carlos
Miranda). Francisco Assis Neto, outro suspeito de integrar o esquema, ainda não
foi localizado. Godinho é acusado de lavar dinheiro no esquema de pagamento de
propinas direcionadas à Cabral, com uso de contratos fictícios.
Entre os alvos de condução
coercitiva estão a ex-mulher de Cabral, Susana Cabral, o irmão do
ex-governador, Maurício Cabral, Eduardo Plass, ex-gestor TAG Bank e da Opus, e
de Luiz Arthur Andrade Correia, que já fora preso na 34ª fase da Lava Jato, em
setembro. A Folha ainda não conseguiu contato com a defesa dos demais alvos.
DEPOIMENTO ESPONTÂNEO
Eike já havia sido citado na
Operação Calicute -primeira etapa da Lava Jato no Rio, que prendeu o
ex-governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ)- por ter repassado R$ 1 milhão ao
escritório de advocacia da ex-primeira-dama do Rio Adriana Ancelmo. Ela está
presa desde dezembro, sob acusação de usar a banca para movimentar a propina
arrecadada pela quadrilha. Em depoimento espontâneo aos procuradores, Eike
disse que esse pagamento se referia a um investimento orientado pela Caixa
Econômica Federal.
De acordo com a força-tarefa
da Lava Jato no Rio, a Caixa negou ter sugerido a operação financeira. O
empresário manteve relação próxima com Cabral e sua família, tendo financiado
políticas públicas no Rio –como a despoluição da Lagoa Rodrigo de Freitas e as
Unidades de Polícia Pacificadora–, bem como momentos de lazer do casal. O
ex-governador e a mulher viajaram 13 vezes em jatos do empresário, tanto a
turismo e para compromissos oficiais, como revelou a Folha no dia 8.
Em 2016, o empresário também
depôs espontaneamente à força tarefa da Lava Jato em Curitiba -seu testemunho
ao Ministério Público Federal resultou no pedido de prisão de Guido Mantega.
Eike afirmou que ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, pediu-lhe um pagamento de
R$ 5 milhões para o PT, em novembro de 2012.
Na época, Mantega era
presidente do Conselho de Administração da Petrobras. Sob orientação do
partido, ele teria firmado um contrato fraudulento com uma empresa do casal de
publicitários João Santana e Mônica Moura, para realizar as transferências. Os
pagamentos foram feitos no exterior, num total de US$ 2,35 milhões.
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