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sábado, 11 de fevereiro de 2017

Após semana com 127 mortos, governo anuncia acordo para pôr fim à paralisação de policiais militares no ES



Após uma semana com ao menos 127 homicídios no Estado, o governo do Espírito Santo anunciou, na noite de sexta-feira (10), um acordo com as associações de classe militares para pôr fim à paralisação de PMs. Caso a negociação se efetive, os policiais militares voltarão às ruas neste sábado (11).

O fim do aquartelamento, porém, ainda depende dos familiares dos PMs, que, desde o dia 4, acampam na frente de batalhões de todo o Estado e impedem a saída do efetivo às ruas. Uma das mulheres que lidera os atos disse que os piquetes devem continuar.

O acordo foi anunciado por Julio Pompeu, secretário de Direitos Humanos do Estado. Segundo ele, as negociações foram fechadas com todas as entidades que representam os policiais. Uma ata da reunião divulgada pelo governo após o anúncio tem assinatura de presidentes de quatro associações.

Na noite anterior, uma reunião com representantes dos movimentos não deu resultado.

Pelo acordo fechado na noite de sexta (10), não há previsão de aumento salarial aos militares, que reivindicavam 47% de reajuste (juntando a perda inflacionária e o ganho salarial). A principal diferença entre o acordo anunciado e o tentado pelo governo na quinta-feira (9) é que agora as autoridades do Espírito Santo aceitaram incluir, na ata de negociação, que os policiais que voltarem ao trabalho às 7h de sábado (11) não sofrerão nenhum tipo de sanção disciplinar. A ata anterior previa apenas que não haveria perseguições (veja a ata das duas reuniões no fim desta reportagem).

Os 703 militares já indiciados por crime de motim, no entanto, seguem respondendo a inquérito, cujo desfecho só será definido ao fim das investigações.

Pelo novo acordo, o governo se comprometeu a apresentar um cronograma para promover policiais que têm direito à progressão na carreira por tempo de serviço e a formar uma comissão para analisar a carga horária da corporação. Uma proposta sobre a progressão de carreira e sobre a carga horária deve ser apresentada em 60 dias.

Participação de entidades

O movimento dos PMs e familiares no Estado foi considerado ilegal pela Justiça na segunda-feira (6) por caracterizar, segundo a decisão, uma tentativa de greve por parte dos agentes, apesar de nenhuma associação da categoria estar oficialmente envolvida nos atos, já que os militares não têm direito a greve.

Em entrevista coletiva na noite de sexta (10), Pompeu afirmou que, embora a paralisação não tenha sido "iniciada pelas associações", ele decidiu negociar com as entidades para que elas "convençam os familiares" a suspender os piquetes nas portas das companhias da PM.

Centenas de mortes

De acordo com o Sindipol (Sindicato dos Policiais Civis do Estado do Espírito Santo), ao menos 127 pessoas foram assassinadas em uma semana. Feito com base em dados do Ciodes (Centro Integrado Operacional de Defesa Social), o número considera as ocorrências até as 19h de sexta-feira (10) e inclui os homicídios no interior e na Grande Vitória.


Além disso, foram registrados 522 roubos de veículos, 154 furtos de veículos até as 10h de sexta — números próximos da média mensal desse tipo de crime. A Fecomércio-ES estima que mais de 300 lojas foram saqueadas ou depredadas, totalizando um prejuízo de cerca de de R$ 25 milhões para os comerciantes capixabas.

Apoio do Exército

Também desde segunda-feira o Estado recebe reforço de homens da Força Nacional e das Forças Armadas. De acordo com estimativa feita antes do anúncio do acordo pelo comandante da Força-Tarefa da Operação Capixaba, general Adilson Katibe, até o fim de semana o número total de militares deveria chegar a 3.000. A Força-Tarefa conta hoje com 1.783 homens, sendo 1.000 do Exército, 373 da Marinha, 110 da Força Aérea e 300 da Força Nacional de Segurança Pública.

As tropas das Forças Armadas foram deslocadas do Rio de Janeiro, Juiz de Fora (MG), Brasília e Taubaté (SP), além de militares do próprio Estado do Espírito Santo. Estão sendo empregados na operação três blindados da Marinha, e devem chegar mais quatro em breve. Ao todo, 106 viaturas, além de helicópteros, são usadas pelas forças federais.

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Falta de ônibus

Desde segunda-feira (6), a Grande Vitória sofre também com a irregularidade ou ausência de transporte público. Segundo Edson Bastos, presidente do Sindirodoviarios-ES, a categoria tentou sair com os ônibus em ao menos duas ocasiões, mas os motoristas foram ameaçados e os coletivos, recolhidos.

— A intenção é voltar quando estabelecer a ordem no Estado, porque está terra de ninguém.

Ainda de acordo com Bastos, quatro ônibus foram incendiados — três na Serra e um em Cariacica — e houve assaltos e sequestro de veículo nesses dias. O efetivo da região é de cerca de 1.300 ônibus.

Negociações frustradas

Além da sensação de insegurança — moradores estão trancados em casa, há boatos de toque de recolher e o DML (Departamento Médico Legal) chegou a ficar superlotado por causa das mortes violentas na Grande Vitória.

Antes do anúncio de sexta (10), o governo capixaba e as mulheres que aderiram ao movimento que impede a saída de PMs às ruas têm trocado acusações.

De um lado, o governo colocava na conta do movimento as mortes e atos violentos ocorridos no Estado e dizia que o grupo não queria negociar; de outro, as mulheres alegam que o problema era a omissão do governo em relação aos policias e declaravam estar sem apoio e buscar apenas o direito de seus familiares.

Na última quinta-feira (9), uma reunião que durou mais de dez horas tentou dar um fim à ocupação dos batalhões. O encontro terminou após a meia-noite e o grupo não chegou a um acordo. M., 26 anos, estava na reunião e prefere não se identificar por medo de sofrer represália. Ela, que com outras seis mulheres atuaram como mediadoras do encontro, afirmou que o grupo foi deixado esperando por diversos momentos.


— Mantiveram a gente lá propositalmente tentando nos cansar, mas não vamos cansar. Toda hora eles saíam da sala e no final deram um tempo para a gente pensar e falamos que íamos levar [a proposta] para o resto do grupo. Pedimos 15 minutos. Eles deram uma hora e depois não apareciam. Ficaram sem falar com a gente. Não deram comida para a gente. Só agua e café. Umas 21h30 voltaram e falamos que não aceitávamos, mas que tínhamos uma contraproposta.         


Na sexta-feira, os batalhões amanheceram bloqueados. Em coletiva de imprensa, o comandante geral da PM, coronel Nylton Rodrigues, informou que ao menos 703 policiais haviam sido identificados e seriam indiciados pelo crime de revolta — evolução do crime de motim.


Rodrigues disse que "com certeza" o número de PMs indiciados "irá aumentar muito" e ressaltou que a maioria dos envolvidos são policiais de início de carreira. 


O governo disse ainda que as mulheres líderes do movimento também serão responsabilizadas pelos custos com a mobilização das Forças Armadas e da Força Nacional de Segurança./r7




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