No Dia Mundial do Câncer,
lembrado neste sábado (4), entidades médicas alertam para ampliação de
campanhas para o diagnóstico precoce da doença e que a população não
negligencie os sintomas.
O câncer é a segunda causa de
morte no mundo. Estimativa do Instituto Nacional do Câncer (Inca) aponta a
ocorrência de cerca de 600 mil casos novos de câncer no Brasil em 2016-2017,
dos quais cerca de 180 mil serão de pele não melanoma. Os cânceres de próstata
(61 mil) em homens e mama (58 mil) em mulheres também serão os mais frequentes.
Às vésperas de completar 35
anos e após duas gestações, Cristiane Souza da Silva Félix viu interrompido o
desejo de uma cirurgia para redução de abdômen ao descobrir um câncer de mama.
A descoberta foi apontada em
exames de rotina, entre os quais uma mamografia. O câncer foi descoberto
precocemente e pôde tratá-lo a tempo.
Prudência
“Se minha médica não fosse
alguém prudente, porque é muito importante isso. Muitas vezes, o médico insiste
nesse exame [mamografia] só aos 40 anos e ela fez de forma prudente,
recomendando primeiro exames de saúde para depois pensar em cirurgia”, contou
Cristiane, que passou pelos processos de quimio e radioterapia.
Sete anos depois, Cristiane
está fazendo exames de dois em dois meses, e tomando medicação até completar
dez anos de operação.
Cristiane não fez a
abdominoplastia, mas criou a Associação Mulheres Vitoriosas, que presta
assistência a mulheres mastectomizadas (que tiraram a mama), no município de
Campos dos Goytacazes, norte fluminense. “Das 500 mulheres a que eu presto
assistência hoje, 75% têm menos de 40 anos e o número de pacientes
mastectomizadas tem sido muito grande abaixo dos 40 anos”.
A engenheira de segurança
Jocilene Braga de Aguiar também destaca a importância da detecção precoce para
eliminar um tumor na mama. Ela está com 39 anos e, portanto, fora da faixa
etária em que é recomendável o início da realização de exames de mamografia.
Mesmo assim, a médica pediu uma mamografia, cujo resultado, divulgado em
novembro, confirmou a alteração na mama. “Foi Deus”, disse Jocilene à Agência
Brasil, referindo-se ao diagnóstico precoce. Ela está em fase pré-operatória
para extrair o câncer. A cirurgia está marcada para o próximo dia 14.
O oncologista Ronaldo Corrêa,
editor científico da Revista Brasileira de Cancerologia do Inca, destaca que as
campanhas devem abordar todos os tipos da doença e não apenas os mais comuns,
como os de próstata e mama. “Acho que é muito pouco em comparação a outros
países, em especial os desenvolvidos”, disse.
Para Ronaldo Corrêa, a
linguagem das campanhas também deve levar em conta a diversidade do país e
“falar a língua” dos moradores de cada região. “A linguagem tem que ser
diferente nesses diferentes contextos, até pelas características e os hábitos
da população de cada região. Fica difícil fazer uma campanha nacional”. Em
países pequenos, segundo ele, é mais fácil ter um discurso uniforme para a
população entender.
Sintomas negligenciados
O presidente da Sociedade
Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), Gustavo Fernandes, alerta que vários
sintomas que podem indicar a presença de um tumor não são observados pelo
paciente, que acaba demorando a procurar um serviço médico. Por exemplo, dores persistentes
após uma ou duas semanas, tosse e rouquidão ininterruptas, perda de peso
acentuada e sangue nas fezes.
“São dois atrasos: um atraso
na procura [do paciente por um médico] e um atraso na obtenção daquilo que se
procura”, disse.
Cigarro
Já o presidente da Sociedade
Brasileira de Cancerologia (SBC), Robson Moura, o cigarro é o principal fator
de risco para o câncer. “É, individualmente, o principal agente causador de
morte no mundo, tanto das doenças cardiovasculares, como está associado ao câncer
de pulmão, de laringe, boca, esôfago, estômago. Também os alimentos constituem
um fator de risco. “Carnes vermelhas estão muito associadas ao risco de câncer
de intestino”. Já carnes salgadas ou defumadas e os embutidos têm substâncias
que aumentam o risco de câncer de estômago.
Segundo o presidente da SBC,
apenas 15% dos cânceres têm um fator genético significativo, como o câncer de
mama. Moura destacou também que alguns tipos de câncer, como o ósseo, são mais
comuns em adolescentes do que em pessoas idosas por estar relacionado ao
processo de crescimento. "Não impede que um adulto possa ter câncer
ósseo”, disse.
De acordo com Moura, mulheres
na menopausa têm um risco maior de câncer de mama, que tende a diminuir a
partir dos 70. Já o câncer de estômago tem incidência maior acima dos 50 anos.
Moura lembrou que também as crianças têm cânceres, em geral hematológicos, como
leucemia.
Campanhas
No próximo dia 10, o ministro
da Saúde, Ricardo Barros, lançará no Inca a campanha deste ano, que tem como
tema o combate ao câncer infantojuvenil. Será divulgado estudo que, pela
primeira vez, trará dados sobre a incidência do câncer e principais tumores na
faixa etária de 5 anos a 19 anos. O ministro irá inaugurar ainda a ala de
pediatria oncológica do Inca.
A campanha mundial da União
Internacional para o Controle do Câncer (UICC) foca, no triênio 2016/2018, na
temática Eu Posso Nós Podemos, englobando ações individuais e coletivas para
diminuir o risco de ter câncer. Entre as ações individuais, cita uma alimentação
saudável, não fumar, não consumir álcool em excesso, ter uma atividade física
regular.
As estratégias coletivas vão
desde a promoção de hábitos saudáveis no ambiente de trabalho, como subir
escadas para diminuir o peso e evitar o consumo de cigarro, até cobrar das
instituições públicas melhores serviços de saúde, melhor acesso ao diagnóstico
e tratamento do câncer, entre outras. “A ciência já tem conhecimento suficiente
para dizer que se eu não fumar, não consumir álcool em excesso e manter um peso
ideal, praticamente reduzo em quase 50% a chance de ter um câncer”, disse
Ronaldo Corrêa.
Envelhecimento
Ronaldo Corrêa estimou que
nos próximos 20 ou 30 anos o número de casos aumente por causa do
envelhecimento, que é um dos principais fatores de risco para câncer. “Quanto
mais velha a população, maior a probabilidade de aquela população ter câncer”.
Nos países desenvolvidos, a
população já envelheceu há 30 ou 40 anos, por isso a incidência de novos casos
de câncer tende a ficar estável ou diminuir.
No Brasil, além de a
população jovem estar envelhecendo e ter se tornado prioritariamente urbana,
nos últimos 20 anos, está sujeita a fatores de risco, como poluição,
sedentarismo, excesso de peso, alimentos fast food.
Corrêa, no entanto, diz que
as taxas de mortalidade precisam diminuir, relacionadas à melhoria dos sistemas
de saúde e comprometimento da sociedade. “Quanto mais uma sociedade avança em
questões que não são somente o setor saúde, mas no emprego, Previdência Social,
educação, transporte, habitação, meio ambiente, o setor saúde avança alinhado
com esses avanços da sociedade e a resposta na redução da mortalidade é muito
maior”.
Ele lembra que o Brasil já
teve conquistas nessa área. Na década de 1950, por exemplo, a sobrevida média
dos indivíduos com câncer atingia 30%, 40%. Hoje em dia, supera 80%.
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