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terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Exército começa a atuar no ES após dia de caos, violência e medo


Exército atua nas ruas da Grande Vitória (Foto: Divulgação/ Sesp-ES)

O Exército começou a atuar nas ruas da Grande Vitória na tarde desta segunda-feira (6). Eles foram acionados por causa da grande quantidade de atos criminosos ocorrendo desde sábado (4), quando famílias de militares começaram a impedir a saída de viaturas, paralisando o policiamento. A Grande Vitória registrou 62 mortes violentas desde o início dos protestos, segundo o Sindicato dos Policiais Civis do Espírito Santo.

Um vídeo enviado por um morador mostra o início da ação do Exército no bairro Praia do Canto, em Vitória. Nas imagens é possível ver os militares revistando e apontando as armas para suspeitos próximo à Ponte Ayrton Sena. Uma das pessoas está deitada no chão.

Segundo a Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), a partir desta terça-feira (7), 1200 homens das Forças Armadas e Nacional estarão nas ruas de todo o Espírito Santo.

Os militares do Exército do 38º Batalhão de Infantaria saíram da Prainha, em Vila Velha, em nove veículos por volta das 18h45. Ao cruzarem as ruas da Grande Vitória, os soldados foram aplaudidos pelos moradores, que passaram dias sem segurança. O ministro da Defesa, Raul Jungmann, chegou a Vitória na tarde desta segunda para acompanhar de perto a situação no estado.

"Atendendo a um pedido do governador, o presidente recomendou que as Forças Armadas realizassem uma ação de garantia da lei e da ordem. Os militares já estão nas ruas. Entre hoje e amanhã estaremos com um efetivo compatível com a necessidade do estado", disse.

Os homens do Exército vão trabalhar em conjunto com policiais civis, guardas municipais e policiais militares que estiverem nas ruas. "Seremos inflexivos e determinados em instaurar a ordem, a paz e a tranquilidade em Vitória e onde for necessário. Não vamos deixar margem para que triunfem os bandidos e a criminalidade", garantiu o ministro.

Força Nacional

O governador em exercício, César Colnago, afirmou que o ministro da Justiça e Segurança Pública, Alexandre Moraes, autorizou o envio de homens da Força Nacional para o policiamento, sendo que 80 vêm do Rio de Janeiro e 120, de Brasília.

Reajuste fora de cogitação

O governador em exercício, César Colnago, disse que o governo está disposto a conversar, mas explicou que o reajuste salarial está fora de cogitação no momento.

"Acreditamos que o bom senso e a racionalidade possam retornar e que possamos conversar e dialogar a partir desse entendimento. O governo entende que quando ele tiver caixa, que quando tiver superávit de receita, poderá mexer nos salários e fazer ofertas de serviço. Enquanto tiver deficitário, eu não tenho como prometer aquilo que eu não tenho", disse.

Para o novo comandante da Polícia Militar, Nylton Rodrigues, os pedidos dos PMs são legítimos, mas que o movimento não pode ocorrer dessa forma.


"Eu considero legítimas as reivindicações dos meus policiais, vou me tornar uma voz da instituição junto ao governo, para que essa situação seja revertida e os nossos policiais sejam valorizados. Mas não posso admitir como está a Polícia Militar não vai abandonar a população capixaba", falou.

Policiais nas ruas

Nylton Rodrigues explicou que os policiais militares estão começando a voltar para as ruas aos poucos. "Os policiais que trabalham no serviço administrativo estarão fazendo o policiamento ostensivo a pé. O Batalhão de Missões Especial e a ROTAM prestarão apoio a esses policiais caso seja necessário", explicou.

O presidente da Associação de Cabos e Soldados, cabo Renato, explicou que esses policiais que estão a pé precisam do apoio de viaturas. Ele não soube informar quantos estão trabalhando.

"A Polícia Militar não está em greve, então se o comando exige que eles vão para a rua a pé, eles devem ir. Porém, o trabalho de madrugada é feito com rádio-patrulha, não a pé. Se for exigido que esses policiais fiquem a pé de madrugada, vai ser como jogá-los em uma cova de leões", disse.

‘Greve’

A Justiça decretou o movimento ilegal e já determinou que os manifestantes saiam das portas dos quartéis. No entanto, na manhã desta segunda os protestos continuavam, e a polícia ainda não estava trabalhando. As manifestações acontecem em toda a Região Metropolitana de Vitória, Guarapari, Linhares, Aracruz, Colatina e Piúma.

Os familiares protestam no lugar dos PMs, porque eles são proibidos pelo Código Penal Militar de fazer greve ou paralisação. A pena para o PM que participar em atos desse tipo pode chegar a dois anos de prisão.

Decisões

Na manhã desta segunda-feira, o secretário de Segurança Pública André Garcia anunciou uma série de decisões tomadas para conter as manifestações e a violência na Grande Vitória. São elas:
- Suspensão de negociações com os policiais enquanto não voltarem ao trabalho de patrulhamento nas ruas e o atendimento das ocorrências.

- Troca do comando da Polícia Militar do Espírito Santo. O coronel Laércio Oliveira, que tinha sido nomeado em 16 de janeiro, foi substituído pelo coronel Nilton. - Ação judicial pedindo a ilegalidade do movimento. - Pedido do apoio da Força Nacional ao Ministério da Justiça e da Segurança Pública.
- Pedido do apoio das Forças Armadas ao Ministério da Defesa.

Nesta segunda-feira, o desembargador Robson Luiz Albanez declarou a paralisação ilegal e decidiu:
- Restauração imediata da segurança pública;

- Multa diária de R$ 100 mil contra a Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar do Espírito Santo (ACS-PMBM-ES), Associação dos Subtenentes e Sargentos da Polícia e Bombeiro Militar do Espírito Santo (ASSES), Associação dos Bombeiros Militares do Espírito Santo (ABMES), Associação dos Oficiais Militares do Espírito Santo (ASSOMES), Associação dos Militares da Reserva, Reformados, da Ativa da Polícia Militar, do Corpo de Bombeiros Militar e Pensionistas de Militares (ASPOMIRES).

Outro lado

O presidente da Associação de Cabos e Soldados, cabo Renato Martins Conceição, informou que representantes das cinco associações de militares estão reunidos no Clube dos Oficiais, analisando a decisão judicial que decretou a ilegalidade do movimento. A reunião só deve terminar no início da tarde. As associações foram notificadas da decisão da Justiça durante a manhã.

O major Rogério Fernandes Lima, da Associação dos Oficiais Militares, disse que a associação não é responsável pelo movimento e não serão eles que vão repreender a ação dos familiares dos policiais.

"O movimento é legítimo, pleiteando melhorias salariais, visto que tem o pior salário do Brasil. Mas, se não somos nós que organizamos como podemos ser penalizados?", questionou.

Suspensão de atividades

O Sindicato dos Rodoviários (Sindirodoviários-ES) informou que os ônibus estão paralisados desde as 16h. A circulação ficará suspensa até que a situação da segurança seja normalizada. A Prefeitura de Vitória suspendeu o atendimento em todas as unidades de saúde da capital, inclusive a vacinação contra a febre amarela. Também não haverá atendimento no Palácio Municipal, no Centro Integrado de Atendimento ao Cidadão (Ciac), na Casa do Cidadão e nos equipamentos da Secretaria Municipal de Assistência Social, como Centros de Referência de Assistência Social (Cras), Centros de Referência Especializados em Assistência Social (Creas) e Centro de Referência da Juventude (CRJ), entre outros.

A Prefeitura de Vila Velha informou que as aulas continuam suspensas nas 98 escolas da rede pública nesta terça-feira. O expediente na prefeitura e de seus órgãos estará suspenso pela manhã.

Para a tarde, será avaliada a situação da segurança pública. Atendimento de urgências nos Prontos-Atendimentos (PAs) da Glória e de Cobilândia funcionarão durante a noite toda a noite. A vacinação contra febre amarela ocorrerá nesta terça nos postos de: Jaburuna, Ibes, Paul, Jardim Marilândia e Barra do Jucu.

No estado, escolas e faculdades públicas e particulares cancelaram as aulas nesta segunda. São elas:
- Escolas públicas municipais de Vitória, Vila Velha, Cariacica, Serra, Viana, Cachoeiro de Itapemirim e Linhares;

- Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes): campi Goiabeiras, Maruípe, Alegre e São Mateus;
- Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes): 20 campi, no Centro de Referência em Formação e em Educação a Distância (Cefor) e na Reitoria. A exceção será o Campus Venda Nova do Imigrante, que optou por manter o funcionamento;

- Faculdade de Ensino Superior de Linhares (Faceli);
- Faculdade de Direito de Vitória (FDV);
- Universidade Vila Velha (UVV): até as 12h
- Emescam;
- Escola Leonardo da Vinci;
- Darwin: unidades Cachoeiro de Itapemirim, Colatina e Linhares;
- Up: todas as unidades;
- Colégio Marista de Vila Velha
- Colégio Ápice Jacaraípe.

Os seguintes órgãos públicos estão com atividades paralisadas:

- Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MP-ES);
- Ministério Público Federal no Espírito Santo (MPF/ES): a Procuradoria da República em Colatina será a única a manter o expediente normal

- Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo (TJ-ES): fóruns de Vitória, Serra, Vila Velha, Cariacica e Viana fechados. Expediente mantido na sede do Tribunal de Justiça;
- Ministério Público do Trabalho no Espírito Santo (MPT-ES): enquanto durar a crise do sistema de segurança pública.

Mortes

A Grande Vitória registrou 62 mortes violentas desde o início dos protestos de familiares de policiais militares, segundo o Sindicato dos Policiais Civis do Espírito Santo. A Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) ainda não tem um balanço.

Se confirmado, o número de mortos nos últimos três dias significa um aumento de mais de 1.000% em relação a todo o mês de janeiro, quando ocorreram apenas quatro registros no Departamento Médico Legal (DML).

Lojas arrombadas

Várias lojas de Vitória, Vila Velha, Serra, Cariacica e Guarapari foram arrombadas por criminosos. Por causa disso, os estabelecimentos não vão funcionar nesta segunda.

No bairro da Glória, em Vila Velha, o equivalente a um caminhão de mercadorias foi roubado das Casas Bahia. O portão da loja foi arrombado e, segundo o gerente, os criminosos destruíram muita coisa dentro do local. A Eletrocity também foi alvo da ação de assaltantes.

Em Guarapari, a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) informou que 35 lojas da cidade haviam sido assaltadas até o início da manhã desta segunda./G1

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