O Exército começou a atuar
nas ruas da Grande Vitória na tarde desta segunda-feira (6). Eles foram
acionados por causa da grande quantidade de atos criminosos ocorrendo desde
sábado (4), quando famílias de militares começaram a impedir a saída de viaturas,
paralisando o policiamento. A Grande Vitória registrou 62 mortes violentas
desde o início dos protestos, segundo o Sindicato dos Policiais Civis do
Espírito Santo.
Um vídeo enviado por um
morador mostra o início da ação do Exército no bairro Praia do Canto, em
Vitória. Nas imagens é possível ver os militares revistando e apontando as
armas para suspeitos próximo à Ponte Ayrton Sena. Uma das pessoas está deitada
no chão.
Segundo a Secretaria de
Estado de Segurança Pública (Sesp), a partir desta terça-feira (7), 1200 homens
das Forças Armadas e Nacional estarão nas ruas de todo o Espírito Santo.
Os militares do Exército do
38º Batalhão de Infantaria saíram da Prainha, em Vila Velha, em nove veículos
por volta das 18h45. Ao cruzarem as ruas da Grande Vitória, os soldados foram
aplaudidos pelos moradores, que passaram dias sem segurança. O ministro da
Defesa, Raul Jungmann, chegou a Vitória na tarde desta segunda para acompanhar
de perto a situação no estado.
"Atendendo a um pedido
do governador, o presidente recomendou que as Forças Armadas realizassem uma
ação de garantia da lei e da ordem. Os militares já estão nas ruas. Entre hoje
e amanhã estaremos com um efetivo compatível com a necessidade do estado",
disse.
Os homens do Exército vão
trabalhar em conjunto com policiais civis, guardas municipais e policiais
militares que estiverem nas ruas. "Seremos inflexivos e determinados em
instaurar a ordem, a paz e a tranquilidade em Vitória e onde for necessário.
Não vamos deixar margem para que triunfem os bandidos e a criminalidade",
garantiu o ministro.
Força Nacional
O governador em exercício,
César Colnago, afirmou que o ministro da Justiça e Segurança Pública, Alexandre
Moraes, autorizou o envio de homens da Força Nacional para o policiamento,
sendo que 80 vêm do Rio de Janeiro e 120, de Brasília.
Reajuste fora de cogitação
O governador em exercício,
César Colnago, disse que o governo está disposto a conversar, mas explicou que
o reajuste salarial está fora de cogitação no momento.
"Acreditamos que o bom
senso e a racionalidade possam retornar e que possamos conversar e dialogar a
partir desse entendimento. O governo entende que quando ele tiver caixa, que
quando tiver superávit de receita, poderá mexer nos salários e fazer ofertas de
serviço. Enquanto tiver deficitário, eu não tenho como prometer aquilo que eu
não tenho", disse.
Para o novo comandante da
Polícia Militar, Nylton Rodrigues, os pedidos dos PMs são legítimos, mas que o
movimento não pode ocorrer dessa forma.
"Eu considero legítimas
as reivindicações dos meus policiais, vou me tornar uma voz da instituição
junto ao governo, para que essa situação seja revertida e os nossos policiais
sejam valorizados. Mas não posso admitir como está a Polícia Militar não vai
abandonar a população capixaba", falou.
Policiais nas ruas
Nylton Rodrigues explicou que
os policiais militares estão começando a voltar para as ruas aos poucos.
"Os policiais que trabalham no serviço administrativo estarão fazendo o
policiamento ostensivo a pé. O Batalhão de Missões Especial e a ROTAM prestarão
apoio a esses policiais caso seja necessário", explicou.
O presidente da Associação de
Cabos e Soldados, cabo Renato, explicou que esses policiais que estão a pé
precisam do apoio de viaturas. Ele não soube informar quantos estão trabalhando.
"A Polícia Militar não
está em greve, então se o comando exige que eles vão para a rua a pé, eles
devem ir. Porém, o trabalho de madrugada é feito com rádio-patrulha, não a pé.
Se for exigido que esses policiais fiquem a pé de madrugada, vai ser como
jogá-los em uma cova de leões", disse.
‘Greve’
A Justiça decretou o
movimento ilegal e já determinou que os manifestantes saiam das portas dos
quartéis. No entanto, na manhã desta segunda os protestos continuavam, e a
polícia ainda não estava trabalhando. As manifestações acontecem em toda a
Região Metropolitana de Vitória, Guarapari, Linhares, Aracruz, Colatina e
Piúma.
Os familiares protestam no
lugar dos PMs, porque eles são proibidos pelo Código Penal Militar de fazer
greve ou paralisação. A pena para o PM que participar em atos desse tipo pode
chegar a dois anos de prisão.
Decisões
Na manhã desta segunda-feira,
o secretário de Segurança Pública André Garcia anunciou uma série de decisões
tomadas para conter as manifestações e a violência na Grande Vitória. São elas:
- Suspensão de negociações
com os policiais enquanto não voltarem ao trabalho de patrulhamento nas ruas e
o atendimento das ocorrências.
- Troca do comando da Polícia
Militar do Espírito Santo. O coronel Laércio Oliveira, que tinha sido nomeado
em 16 de janeiro, foi substituído pelo coronel Nilton. - Ação judicial pedindo
a ilegalidade do movimento. - Pedido do apoio da Força Nacional ao Ministério
da Justiça e da Segurança Pública.
- Pedido do apoio das Forças
Armadas ao Ministério da Defesa.
Nesta segunda-feira, o
desembargador Robson Luiz Albanez declarou a paralisação ilegal e decidiu:
- Restauração imediata da
segurança pública;
- Multa diária de R$ 100 mil
contra a Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar do Espírito Santo
(ACS-PMBM-ES), Associação dos Subtenentes e Sargentos da Polícia e Bombeiro
Militar do Espírito Santo (ASSES), Associação dos Bombeiros Militares do
Espírito Santo (ABMES), Associação dos Oficiais Militares do Espírito Santo
(ASSOMES), Associação dos Militares da Reserva, Reformados, da Ativa da Polícia
Militar, do Corpo de Bombeiros Militar e Pensionistas de Militares (ASPOMIRES).
Outro lado
O presidente da Associação de
Cabos e Soldados, cabo Renato Martins Conceição, informou que representantes
das cinco associações de militares estão reunidos no Clube dos Oficiais,
analisando a decisão judicial que decretou a ilegalidade do movimento. A
reunião só deve terminar no início da tarde. As associações foram notificadas
da decisão da Justiça durante a manhã.
O major Rogério Fernandes
Lima, da Associação dos Oficiais Militares, disse que a associação não é
responsável pelo movimento e não serão eles que vão repreender a ação dos
familiares dos policiais.
"O movimento é legítimo,
pleiteando melhorias salariais, visto que tem o pior salário do Brasil. Mas, se
não somos nós que organizamos como podemos ser penalizados?", questionou.
Suspensão de atividades
O Sindicato dos Rodoviários
(Sindirodoviários-ES) informou que os ônibus estão paralisados desde as 16h. A
circulação ficará suspensa até que a situação da segurança seja normalizada. A
Prefeitura de Vitória suspendeu o atendimento em todas as unidades de saúde da
capital, inclusive a vacinação contra a febre amarela. Também não haverá
atendimento no Palácio Municipal, no Centro Integrado de Atendimento ao Cidadão
(Ciac), na Casa do Cidadão e nos equipamentos da Secretaria Municipal de
Assistência Social, como Centros de Referência de Assistência Social (Cras),
Centros de Referência Especializados em Assistência Social (Creas) e Centro de
Referência da Juventude (CRJ), entre outros.
A Prefeitura de Vila Velha
informou que as aulas continuam suspensas nas 98 escolas da rede pública nesta
terça-feira. O expediente na prefeitura e de seus órgãos estará suspenso pela
manhã.
Para a tarde, será avaliada a
situação da segurança pública. Atendimento de urgências nos
Prontos-Atendimentos (PAs) da Glória e de Cobilândia funcionarão durante a
noite toda a noite. A vacinação contra febre amarela ocorrerá nesta terça nos
postos de: Jaburuna, Ibes, Paul, Jardim Marilândia e Barra do Jucu.
No estado, escolas e
faculdades públicas e particulares cancelaram as aulas nesta segunda. São elas:
- Escolas públicas municipais
de Vitória, Vila Velha, Cariacica, Serra, Viana, Cachoeiro de Itapemirim e
Linhares;
- Universidade Federal do
Espírito Santo (Ufes): campi Goiabeiras, Maruípe, Alegre e São Mateus;
- Instituto Federal do Espírito
Santo (Ifes): 20 campi, no Centro de Referência em Formação e em Educação a
Distância (Cefor) e na Reitoria. A exceção será o Campus Venda Nova do
Imigrante, que optou por manter o funcionamento;
- Faculdade de Ensino
Superior de Linhares (Faceli);
- Faculdade de Direito de
Vitória (FDV);
- Universidade Vila Velha
(UVV): até as 12h
- Emescam;
- Escola Leonardo da Vinci;
- Darwin: unidades Cachoeiro
de Itapemirim, Colatina e Linhares;
- Up: todas as unidades;
- Colégio Marista de Vila
Velha
- Colégio Ápice Jacaraípe.
Os seguintes órgãos públicos
estão com atividades paralisadas:
- Ministério Público do
Estado do Espírito Santo (MP-ES);
- Ministério Público Federal
no Espírito Santo (MPF/ES): a Procuradoria da República em Colatina será a
única a manter o expediente normal
- Tribunal de Justiça do
Estado do Espírito Santo (TJ-ES): fóruns de Vitória, Serra, Vila Velha,
Cariacica e Viana fechados. Expediente mantido na sede do Tribunal de Justiça;
- Ministério Público do
Trabalho no Espírito Santo (MPT-ES): enquanto durar a crise do sistema de
segurança pública.
Mortes
A Grande Vitória registrou 62
mortes violentas desde o início dos protestos de familiares de policiais
militares, segundo o Sindicato dos Policiais Civis do Espírito Santo. A
Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) ainda não tem um balanço.
Se confirmado, o número de
mortos nos últimos três dias significa um aumento de mais de 1.000% em relação
a todo o mês de janeiro, quando ocorreram apenas quatro registros no
Departamento Médico Legal (DML).
Lojas arrombadas
Várias lojas de Vitória, Vila
Velha, Serra, Cariacica e Guarapari foram arrombadas por criminosos. Por causa
disso, os estabelecimentos não vão funcionar nesta segunda.
No bairro da Glória, em Vila
Velha, o equivalente a um caminhão de mercadorias foi roubado das Casas Bahia.
O portão da loja foi arrombado e, segundo o gerente, os criminosos destruíram
muita coisa dentro do local. A Eletrocity também foi alvo da ação de
assaltantes.
Em Guarapari, a Câmara de
Dirigentes Lojistas (CDL) informou que 35 lojas da cidade haviam sido
assaltadas até o início da manhã desta segunda. /G1
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