O marqueteiro João Santana e
sua mulher, Mônica Moura, delatores da Operação Lava Jato, contaram ao
Ministério Público Federal (MPF) sobre a troca de informações com a
ex-presidente Dilma Rousseff a respeito do avanço da Lava Jato. Os dois
detalharam a criação de um e-mail em comum com a petista no qual eram avisados
sobre a investigação.
Mônica disse aos
investigadores em sua delação que Dilma ligou para a República Dominicana, onde
o casal estava, para avisar João Santana que ele e a mulher seriam presos. A
ligação teria sido feita em 21 de fevereiro do ano passado. O casal foi alvo da
23ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada no dia seguinte.
Na delação, Santana e Mônica
apontam que Dilma mostrava preocupação com o avanço das investigações. No
anexo, Monica Moura relata que estava de férias em Nova York em novembro de
2014 quando recebeu ligação do então ministro Edinho Silva, que avisou que
Dilma queria falar pessoalmente de forma urgente.
A empresária pegou um voo à
noite, partindo dos Estados Unidos para Brasília e foi recebida no aeroporto
por Giles Azevedo, assessor de confiança da então presidente. No Palácio da
Alvorada, residência oficial da presidente da República, conversou com Dilma no
jardim. De acordo com o anexo entregue ao MPF, "a presidente estava
preocupação que as investigações chegasse a conta da Suíça de Monica Moura e
João Santana no exterior, o que a colocaria em perigo, porque sabia que a
Odebrecht tinha realizado o pagamento de suas campanhas através de depósitos de
propinas na conta do casal".
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Dilma teria dito a Mônica:
"precisamos manter contato frequente de uma forma segura para que eu lhe
avise sobre o andamento da operação, estou sendo informada de tudo
frequentemente pelo José Eduardo Cardozo (então ministro da Justiça)". A
empresária teria criado então no computador da presidente uma conta no gmail,
com nome e dados fictícios, com senha compartilhada entre as duas e Giles.
Segundo a delatora, elas combinaram que, se houvesse notícia sobre avanço da
Lava Jato em relação ao casal o aviso seria feito através desse e-mail.
Pelo combinado, quando Dilma
recebesse alguma informação de Cardozo, Giles seria responsável por mandar uma
mensagem à empresária com um sinal para que checasse o e-mail. As mensagens
escritas pela presidente ficariam na caixa de rascunhos do e-mail, para não
circularem, e Mônica acessaria a conta de onde estivesse. "Por esse
e-mail, Monica Moura foi sistematicamente informada sobre o andamento da
operação", consta no anexo da empresária entregue ao MPF.
Já em 2015, no dia 1º de
maio, quando o casal foi gravar pronunciamento da presidente, Dilma demonstrou
preocupação com a Lava Jato. Segundo o documento, a petista se preocupava pois
"as coisas estavam avançando rapidamente e ela não tinha controle sobre a
operação". Elas criaram então um segundo e-mail.
Por meio das duas contas,
Mônica recebia informações sobre a Lava Jato. Por esse e-mail, a empresária foi
avisada que também estava sendo investigada na Lava Jato - e não apenas seu
marido. Em 19 de fevereiro de 2016, de acordo com a delatora, ela foi avisada
pelo e-mail secreto de que mandatos de prisão contra os dois haviam sido
assinados.
Como provas para corroborar o
que foi dito, a delatora entregou as duas contas de e-mail ativas, a passagem
aérea de um bate volta e volta de Nova York para o Brasil, o seu notebook,
entre outros documentos.
João Santana também fala do
chamado urgente feito por Dilma para que Mônica viajasse de Nova York para
Brasília. Segundo ele, Dilma recomendou que o casal permanecesse o maior tempo
possível fora do país, nos locais onde realizavam campanhas eleitorais. A então
presidente chegou a perguntar ao marqueteiro, segundo a delação, se pagamentos
da Odebrecht pelos serviços da campanha eleitoral tinham sido feitos "de
forma segura". Segundo Santana, Dilma relatou que Marcelo Odebrecht fazia
chegar, por meio de interlocutores, informações sobre o pagamento de campanhas
eleitorais como um "recado" ao Planalto.
Em nota, a assessoria de
imprensa da ex-presidente Dilma Rousseff informa que "João Santana e
Monica Moura prestaram falso testemunho e faltaram com a verdade em seus
depoimentos, provavelmente pressionados pelas ameaças dos investigadores".
"Apesar de tudo, a presidente eleita acredita na Justiça e sabe que a
verdade virá à tona e será restabelecida", diz a nota da assessoria da
ex-presidente.
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