Centenas de simpatizantes do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegavam a Curitiba nesta terça-feira
para apoiar o líder esquerdista durante seu aguardado cara a cara com o juiz
Sérgio Moro, que o interrogará nesta quarta-feira sobre uma das acusações de
corrupção que pesam contra ele.
A capital da operação 'Lava
Jato' começava a mobilizar medidas de segurança extraordinárias no entorno do
tribunal, em vista das grandes manifestações previstas a favor e contra o
ex-presidente (2003-2010) que, segundo todas as pesquisas de opinião, lidera as
intenções de voto para as eleições presidenciais de 2018.
Lula recebeu nesta
terça-feira um golpe imprevisto, quando o juiz federal Ricardo Leite, de
Brasília, comunicou sua decisão de suspender as atividades do Instituto Lula,
que divulga seu legado, por suspeitas de que pode ter servido de lugar de
encontro para cometer "vários ilícitos criminais".
O ex-líder sindical, de 71
anos, continua polarizando as paixões do Brasil e considera que as cinco
acusações que pesam contra ele - por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e
obstrução à Justiça - só pretendem impedi-lo de voltar ao poder em 2018.
Engajado na luta contra a
corrupção no país, Moro, juiz de primeira instância, 44 anos, deverá determinar
se Lula recebeu um luxuoso apartamento da empreiteira OAS, envolvida na rede de
propinas na Petrobras, em troca de favores ilegais.
O Ministério Público acusa o
ex-presidente de ter recebido 3,7 milhões de reais da OAS, inclusive o triplex
no Guarujá (litoral de São Paulo) e o custeio do armazenamento de seus bens
pessoais e de seu acervo presidencial entre 2011 e 2016.
Se condenado e a sentença for
confirmada em segunda instância, o homem que ganhou fama mundial por liderar o
milagre brasileiro há uma década terá que desistir de se candidatar ano que
vem. Pesquisa do Ibope, divulgada no mês passado, dá a Lula 30% das intenções
de voto para a presidência, mas também revela um índice de rejeição de 51%. O
combativo ex-líder sindical não pensa em jogar a toalha.
Tensão em Curitiba
Os simpatizantes de Lula,
vestindo camisetas e com bandeiras vermelhas do Partido dos Trabalhadores (PT),
chegaram em ônibus e de avião de todas as partes do Brasil. Só de São Paulo
saíram cem ônibus, informou à AFP a Frente Brasil Livre, que reúne vários
movimentos sociais.
"Viemos porque
entendemos que o processo contra Lula está viciado e é necessário demonstrar
que o povo está atento, que o povo está observando", disse à AFP Jo
Portilho, bancária de 54 anos, que pegou um voo no Rio para chegar à capital do
Paraná.
Membros do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) começavam a se instalar em barracas de
camping, onde passarão a noite à espera do início do julgamento às 14H00 de
amanhã.
"Sou advogado,
militante. Vim ao acampamento expressar minha solidariedade com os
trabalhadores rurais que vieram reforçar a luta pela democracia, pelas
liberdades democráticas, a favor de Luiz Inácio Lula da Silva", afirmou
Ralph Moreira, de 60 anos.
Uma opinião pouco
compartilhada nesta cidade onde Moro é venerado como um herói também exibia
outra face. Grupos contrários ao líder histórico do PT, de 71 anos, usaram de
ironia para dar saudar Lula: "Seja bem-vindo. A República de Curitiba te
espera de grades abertas", dizia um cartaz ao lado de um desenho do
ex-presidente vestindo roupa de presidiário.
Espera-se que milhares de
manifestantes retratem nesta quarta-feira nesta cidade sulista a polarização da
sociedade brasileira, aprofundada desde que no ano passado o Congresso
destituiu a herdeira política de Lula, Dilma Rousseff, para empossar seu
ex-companheiro de chapa, Michel Temer (PMDB/SP).
Moro pediu neste sábado a
seus simpatizantes para não participar. "Não quero que ninguém se machuque
em uma eventual discussão ou conflito. Por isso, minha sugestão é que não
venham, não é necessário. Deixem a Justiça fazer seu trabalho", afirmou em
vídeo divulgado nas redes sociais.
O ex-líder sindical que
comandou no fim da década de 1970 grandes greves contra a ditadura militar
(1964-1985) deixou claro que mantém seu espírito combativo, apesar do vendaval
de denúncias e da perda recente da esposa, Marisa Letícia, falecida em
fevereiro após sofrer um AVC.
"Faz dois anos estou
lendo nos jornais que o PT acabou e que amanhã o Lula será preso. Se eles não
me prenderem logo, quem sabe um dia eu mando prendê-los pelas mentiras que
contam", ameaçou Lula em comício na sexta-feira.
"Será importante ver
como Lula responde às perguntas do juiz, que estarão baseadas em investigações
realizadas pela Polícia Federal e o Ministério Público (...). Será, sem dúvida,
um confronto interessante", disse à AFP David Fleischer, professor emérito
da Universidade de Brasília.
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