O movimento liderado por mulheres
e familiares de policias militares no Espírito Santo, que bloqueia batalhões em
todo o Estado, completa duas semanas neste sábado (18). Mesmo após decisão
judicial para desobstrução das unidades de segurança e anúncio do governo de
que a situação foi normalizada, apenas cerca de um terço dos PMs retomou os
trabalhos.
De acordo com a Sesp
(Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social), dos 10.400 agentes
do efetivo do Estado, apenas 2.482 atenderam ao Chamado Operacional feito pelo
comando geral da PM. Além disso, o policiamento ostensivo conta com 337
viaturas e as mulheres permanecem acampadas na frente dos batalhões impedindo a
saída de viaturas para as ruas.
Para reforçar a segurança no
ES, o governo federal autorizou a permanência de 3.000 agentes da Força
Nacional e do Exército no Estado pelo menos até semana que vem. No entanto, o
ministro da Defesa, Raul Jungmann, já declarou que o reforço permanece na região
“o tempo que for necessário”.
Nesta sexta-feira (17), subiu
para 1.151 o número de policiais que responderão a Inquéritos Policiais
Militares por causa do movimento de paralisação. Além disso, ao menos 124
militares responderão PAD-RO (Processos Administrativos Disciplinares de Rito
Ordinário) — que podem levar à demissão de policiais que têm menos de 10 anos
de serviço — e 27 respondem por ações relacionados ao Conselho de Disciplina —
procedimento similar para os que têm mais de 10 anos.
Na semana passada, o governo
já havia anunciado que mais de 700 PMs foram identificados e serão indiciados
pelo crime de revolta — evolução do crime de motim — mas deixou claro que esse
número deve ser maior. Em relação às mulheres que lideram o movimento, o Ministério
Público Federal ajuizou uma ação para que elas saiam da frente das unidades
militares. Mediadoras do movimento ouvidas pelo R7 declararam não ter recebido
qualquer tipo de notificação sobre essa ação.
Apoio psicológico
Nessas duas semanas, diversos
policiais miliares procuraram apoio psicológico no HPM (Hospital da Polícia
Militar) de Vitória. De acordo com policiais e mulheres de PMs ouvidos pela
reportagem, os agentes estão sofrendo com pressão psicológica e crises de
estresse. É o caso que uma das participantes do movimento que bloqueia
batalhões em Vitória relata.
A situação está caótica. Meu
noivo teve um surto e está em casa tomando remédio controlado. Conseguiu uma
licença de 15 dias.
Segundo ela, muitos policiais
estão sem condições de trabalhar por causa de todo o ocorrido nas últimas duas
semanas. A informação é confirmada por um PM que relatou ter recebido diversos
relatos de problemas do mesmo tipo.
— Muitos policiais estão
procurando hospitais, sem ânimo para trabalhar. É uma situação deprimente.
Segundo ele, os agentes têm
contado que estão recebendo atendimento, mas disse que há preocupação com o
futuro desses policiais quando a situação da segurança no Estado for
normalizada.
— Mesmo que volte ao normal,
se não houver uma valorização por parte do governo, dificilmente eles vão
voltar para a rua com a cabeça erguida. Provavelmente vão voltar com a cabeça
baixa e sem força para fazer o papel deles que é de defesa da sociedade.
A Sesp declarou que a PM
informou que “todos os PMs que buscaram atendimento no Hospital da Polícia
Militar passaram pela avaliação de uma junta médica, que tem dado o suporte
necessário para o retorno dos policiais para o serviço operacional”. Também de
acordo com a pasta, a direção do HPM ainda não passou um número de atendidos
nesse período.
Violência
O Espírito Santo registrou,
até quinta-feira (16), ao menos 149 mortes desde o início da paralisação dos
PMs no Estado, de acordo com o Sindipol (Sindicato dos Policiais Civis).
Negros, moradores de periferia, do sexo masculino, e maiores de idade é o
perfil das pessoas assassinadas.
O sindicato afirma que
levantamento foi feito com base nos registros da Divisão de Homicídios, do
Departamento Médico Legal de Vitória e do Centro Integrado de Defesa Social.
Ao todo, 138 vítimas são
homens maiores de idade. Dezessete vítimas eram adolescentes, sendo que onze
delas foram mortas na Grande Vitória e seis no interior. O total de mulheres
assassinadas no Estado chegou a onze, sendo nove na região metropolitana e duas
no interior.
Apesar de indicar o perfil
geral das vítimas, a entidade não detalhou os números exatos de vítimas
conforme a cor da pele e a região onde moram./r7
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