Ninguém simbolizou as
ambições brasileiras dos anos 2000 como o empresário, que prometia ser o homem
mais rico do mundo. Sua prisão marca o ocaso de uma figura cuja trajetória se
confunde com a do país.Em janeiro de 2012, a revista Veja estampou uma de suas
capas com uma montagem que mostrava Eike Batista usando o uniforme do ditador
chinês Deng Xiaoping. A publicação falava do surgimento de uma nova classe de
milionários no Brasil, tal como ocorreu no país comunista após as reformas que
introduziram o capitalismo. Eike era encarado como o principal símbolo desse
esplendor brasileiro.
Era a também a época de
estímulo das "campeãs nacionais", grandes empresas que receberam
farto apoio do BNDES durante os governos petistas para ganhar projeção
internacional. Entre elas estavam a Eletrobras, a Oi, a LBR e o Grupo X, de
Eike Batista. O Brasil vivia tempos de otimismo, dos Brics, de pré-sal. "O
Eike é nosso padrão, nossa expectativa e orgulho do Brasil", afirmou em
abril de 2012 a então presidente Dilma Rousseff.
Naquele ano, Eike apareceu
como o oitavo homem mais rico do mundo em uma lista da Bloomberg. Disse ainda
que assumiria o topo do ranking em 2015 ou 2016. "Você acha rápido? É
muito tempo", declarou a uma repórter.
Um ano e meio depois da capa
celebratória da Veja, Eike havia virado um pária. A economia brasileira
começaria a descarrilar em 2014. Outras "campeãs" acabaram pedindo
concordata ou foram colocadas melancolicamente à venda.
Mas nenhuma dessas empresas
sofreu uma queda tão explícita quanto o Grupo X de Eike, um conglomerado de
empresas de petróleo, mineração, logística e energia. E nenhuma figura
representou tanto a derrocada das ambições brasileiras a partir dos anos 2000
como Eike Batista, detido nesta segunda-feira (30/01) no Rio, por suspeita de
pagamento de propina ao ex-governador Sérgio Cabral.
Trajetória
Nascido em 1956, Eike teve
como modelo seu pai, Eliezer Batista, executivo que ajudou a Vale a se tornar
uma gigante da mineração. Da mãe, Jutta Fuhrken, herdou um passaporte alemão -
que usaria para deixar o Brasil antes da divulgação do seu pedido de prisão.
Abandonou um curso de
engenharia metalúrgica na Alemanha no fim dos anos 70 para se dedicar ao
comércio de ouro. Logo adquiriu um garimpo na Amazônia, mas a empreitada
fracassou. Acabou sendo salvo pelas conexões do pai, que usou sua influência
para encontrar um comprador para o garimpo. Também foi o pai que o ajudou a se
apresentar a investidores canadenses que o ajudariam a formar sua primeira
"empresa X", a mineradora TVX.
Já na época estavam aparentes
alguns dos traços que ajudariam Eike a conquistar a confiança de tantos
investidores: o otimismo que parecia não conhecer limites - e que muitas vezes
resultava em projeções irreais - e a capacidade de projetar confiança - sempre
pontuada com lições de autoajuda - que lhe conferia uma aura de "visionário".
Também passou a diversificar seus negócios, criando uma fábrica de jipes e uma
empresa de cosméticos.
Certa vez, irrompeu uma
apresentação usando óculos com lentes cor-de-rosa para rebater críticas de que
enxergava a realidade com otimismo excessivo. "Dizem que eu vejo tudo
cor-de-rosa. Vejo mesmo. E sabem por quê? Porque vejo as coisas adiante. Eu
leio o jornal de amanhã", disse.
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